A gente não acha exatamente o que decidiu achar. É comum acharmos aquilo que uma equipe, uma quadrilha, um grupo, um governo, uma facção, uma corporação, querem que achemos. No futebol tem sido assim. Não basta ser craque de bola para ser o melhor do time, o melhor do país, o melhor do mundo. Entram muitos outros fatores, um verdadeiro bombardeio de comunicações até que todos nos convençamos de que o fulano é o cara, o craque, o gênio da bola. Na Copa do Mundo de 2014 escolheram como craque da Copa o Messi. Nem ele acreditou e saiu balançando o troféu na mão todo sem graça. Em 2002 escolheram como o melhor do mundial o goleiro da Alemanha, um tal de Oliver Kahn, depois que Ronaldo e Rivaldo arrebentaram. E agora, nessa Copa que já perdemos, olha aí os craques, Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, todos fora, todos jogando quase nada, exceto o Cristiano que fez alguns gols porque no time dele ninguém consegue fazer nada. Mas, nitidamente, o craque da Copa até agora é o Modric, da seleção croata. Mas ele tem um problema: é feio. Outro problema: não tem imagem que venda. Outro problema: é tímido. Outro problema: joga muito mais para o time que para ele mesmo. Ah, mas o Messi também é feio e tímido dirão alguns. É, mas o Messi é esquisitão, e isso rende imagem. O Modric não, o cara joga muito, é o motor do time, é um dos maiores meio-campistas que vi jogar nos últimos anos, está arrebentando na Copa, mas se sua imagem não vende, não adianta nada. Mas vai que na falta absoluta de outro até escolhem ele. Vai que os fulanos encarregados de decidir quem é o craque da Copa resolvem ler esta crônica e ficam com vergonha. Mas vai ser difícil. Se não, me digam, quem está jogando melhor que ele? O Lukaku? Sim, o Lukaku da Bélgica joga muito, quase igual o Modric, mas não sei se tem imagem que vende. O Mbappé? Esse deu uma corridona de 64 metros e sofreu um pênalti e já está virando o craque da Copa. E parece que tem imagem. O que quer dizer essa imagem? É simples: é aquele negócio de colocar a cara do fulano junto com produtos e vender, vender de tudo, de cerveja a gilete, de carro a desodorante. Ou alguém aí acha que os grandes jogadores ganham milhões para jogar futebol? Imagine! Ninguém ganharia dez milhões de dólares por mês para jogar futebol. O negócio é que o sujeito joga bem futebol e o futebol entra dentro das pessoas e as convence a comprar qualquer negócio, qualquer porcaria, mesmo que elas não precisem. Bem, vamos terminar, mas antes um conselho para o Modric: faça alguma coisa diferente; morda alguém, dê uma cabeça na boca do adversário, caia e chore durante alguns minutos, pague uma nota para arrumarem seu cabelo, conte que dá dinheiro para criancinhas necessitadas, namore uma atriz, caso contrário vai ficar difícil para você meu caro. Futebol só não adianta nada.
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João Batista Freire
Nascido às 13 horas, dia de São João, em Santos. Escola primária no Morro do São Bento, jogador de bola em campinho de terra e pedras, torcedor sofredor do São Paulo. De tanto minha mãe insistir fiz faculdade de Ed. Física, Mestrado e até Doutorado. Gosto mesmo é de escrever, mas como é preciso assunto para escrever enfiei de tudo, de futebol a motricidade humana, de pular corda a pedagogia do movimento. E assim, tenteando e enganando a dita cuja, vou vivendo e já cheguei nos 70.
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