Entra o VAR, sai o arco-íris e a luta pela liberdade.

E prometiam que desta vez iria ser diferente, que o VAR iria varrer a demora, afinal são tantos sensores em tantas partes do campo, nos peitos dos jogadores, nas traves, nos postes, nas gramas, na cal, que desta vez não teríamos nada para esperar, desta vez, em instantes, a tecnologia iria decretar de bate-pronto o que um lance de gol tem a dizer numa partida de futebol, principalmente quando a bola se instala no fundo das redes.

Acho que esqueceram de conectar as coxas, o fio do cabelo, aquela unha encravada, daí a demora para anular o primeiro gol da Copa no Catar, e contra o Catar – ou teria sido um pedido do Emir?

É mesmo uma ironia que o primeiro gol da Copa tenha sido anulado, isso quando muita gente está querendo é anular a Copa toda, no mínimo um boicote porque, veja bem, Copa… no Catar?

No Ca-tar? Taí o trocadilho pronto, o coro uníssono: que vá te catar, ora, tamanha sandice uma Copa num país desses, um país com dinheiro pra caramba, dinheiro que deu pra comprar a FIFA, que deu pra trocar a data da competição e que serve para explorar os mais pobres, os expatriados. Direitos humanos, oi? Mulheres, gays, está tudo muito complicado lá no Catar, até mesmo para o futebol, principalmente para o futebol de qualquer outra parte do mundo não muçulmano.

Só tem um detalhe: é Copa do Mundo e mesmo que você tenha dito a si mesmo, e repetido à exaustão, que não vai assistir a esta Copa porque lá as mulheres praticamente não existem, você viu a cerimônia de abertura?; que não vai assistir aos jogos porque lá ser gay é crime sujeito a pena de morte, aliás, você viu que o capitão da Inglaterra entrou em campo sem a sua braçadeira arco-íris, País de Gales também?, no lugar uma braçadeira definida pela FIFA se fazendo de Emir, fica com esta, aquela com o arco-íris é passível de cartão amarelo, nem precisa chamar o VAR; mesmo com tudo isso e mais uma porção de outras coisas, e com toda a razão do mundo, cada um com sua ressalva, no final das contas, este é o melhor futebol do mundo e bem lá no fundo…

Bem lá no fundo a gente quer é o hexa. Com ou sem Neymar.

Bem lá no fundo a gente quer a festa. Mas bem lá no fundo, mesmo, a gente quer é se fiar na esperança que a vitrine da Copa do Mundo coloca à prova.

Hoje o dia foi das iranianas, emocionadas por estarem pela primeira vez em um estádio de futebol, algo proibido no país de origem. E que bonito foi assistir o silêncio dos jogadores iranianos durante o hino porque, afinal, Woman Life Freedom, e depois a gente ainda pôde ver os ingleses, cada um desses jogadores se ajoelhando em campo para escancarar os crimes de racismo.

Bem lá no fundo estamos todos acompanhando a Copa e amanhã ou depois nós estaremos juntos na torcida pela primeira arbitragem feminina numa Copa do Mundo. No Catar. Só falta a FIFA combinar com o Emir.

• Copa do Mundo do Catar, 2022.
• Catar 0 x 2 Equador.
• Inglaterra 6 x 2 Irã
• Estados Unidos 1 x 1 País de Gales.

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