Copa do mundo? Tô nem aí. Acho uma besteira parar o país para assistir futebol. Tanta coisa para nos (pre)ocupar. Cenário político caótico, desemprego ainda em alta, eleições batendo à porta e o povo pensando em bola. Alôoo, Brasil! É por isso que o país tá desse jeito. Eu que não quero saber de copa, não.
Porque enquanto os telejornais só mostram os gols do dia, os caras fazem a festa lá em cima.
O povo está mais preocupado com o Neymar; o cabelo, o choro, a namorada. Aproveitando, #foratemer #Neymarparapresidente!
O que é que nós ganhamos se o Brasil for campeão? O povo precisa de alguma alegria, dirão os mais empolgados. Mas eu não caio nessa, não! Na real, troco a copa pela Netflix. Prefiro maratonar Grey’s Anatomy ou Walking Dead. Rever Lost ou relembrar meu episódio favorito de Friends! Alienação por alienação, sou mais a dos Yankees.
Acontece que dizer isso a uma família de torcedores fanáticos não é fácil. Todos torcem, também, o nariz quando digo que não quero ver o jogo e saio da sala debaixo dos seus olhares de decepção me acusando de “traíra!” Será que só eu percebo que tem coisas muito mais interessantes do que um jogo do Brasil na Copa do Mundo?
Na parede do meu quarto, o Ronaldo “Fenômeno” continua reinando. O pôster é de 2002, o ano do Penta, quando vi a seleção brasileira ser campeã pela primeira vez. Tempo em que eu ainda me deixava levar pelo frenesi (ou seria catatonia?) que o futebol provoca em todo mundo, mas, como diria minha mãe, eu não sou todo mundo.
A camisa oficial também continua no armário. Boas lembranças. Ao vê-la ali, tão sozinha, não consigo resistir, visto-me de verde-amarelo, beijo o crucifixo no pescoço e esfrego as mãos, só para não perder o costume.
Pois mal o jogo começa, já tem gente xingando o juiz. Coloco o fone de ouvido, como se fosse suficiente para silenciar a torcida. No celular, pipocam as notícias sobre o jogo. Ai meu Jesus, melhor eu desligar isso. Mas, de que adianta? Se olho a janela, vejo a rua inteira verde-amarela. Misericórdia! Ainda tem os fogos explodindo, mesmo sem gol. Esses vizinhos não têm o que fazer mesmo!
Enquanto eles torcem para a seleção, eu torço para o casal do seriado se entender. Se eles sofrem por um gol perdido, eu sofro com a morte do mocinho, que, por sinal, vai acabar com o seriado.
Olho o relógio. Eu ouvi Pênalti? Juiz ladrão, não deu! Acaba o primeiro tempo e nada do grito de gol.
Estou suando frio. Agarro-me ao crucifixo. O segundo tempo começa e vou para o último episódio da temporada.. Tá de brincadeira, 0x0 ainda? Dá uma forcinha ai, meu pai, que esse roteiro não tá ajudando. Esta história não pode acabar assim!
E acreditem se quiser, ele ouviu as minhas preces! Afinal, o protagonista da série não morreu, como eu tinha pensado, e o grito de gol finalmente saiu, tão forte que as janelas tremeram. E o coração, então? Esse sim, um traíra, quase sai pela boca enquanto eu vou correndo fazer coro com a torcida.
Eu sei que parece difícil entender, mas é a mais pura verdade, eu não ligo para futebol. É que treino é treino, jogo é jogo e Copa é onde todos os corações são um só, mesmo que a gente não queira.