VIZINHO
Quando vi meu vizinho pintar a bandeira do Brasil no meio da rua, logo desconfiei: estava chegando a Copa do Mundo. Animados, ele e os filhos repintavam a bandeira em cima do asfalto, depois de quatro anos. E renovavam as esperanças de poder gritar “campeão”. Os filhos são pequenos, nunca viram o Brasil ser campeão, acho até que duvidam que tenha sido, mas enfim, lá estão eles se divertindo.
Meu vizinho torce bastante e está ensinando os filhos. Todos gritam durante os jogos. Aliás, ele é minha referência. Quando ele grita, eu vou dar uma espiada na televisão. Foi gol do Brasil. Mas quando ele fica muito tempo em silêncio, não sei não… Ou o Brasil perdeu ou o jogo foi zero a zero.
Por que eu não fico assistindo? Porque me cansei. Não tenho mais paciência para ver o jogo inteiro. Agora, só vejo os melhores momentos. Que geralmente não passam de 5 minutos e olhe lá! Ficar preso à tela por quase 2 horas por causa de 5 minutos não é um bom negócio, não é mesmo? Prefiro fazer outras coisas. Já fui torcedor fanático, também saí à rua para participar das alegrias da conquista do mundial, mas o tempo passou. Além disso, não conheço a maioria dos jogadores, só sei que jogam na Europa. É como uma visita que vem à nossa casa de 4 em 4 anos. Não dá pra ter muita intimidade…
Mas é comovente ver o esforço do vizinho, passando aos filhos a paixão pelo futebol e pela seleção. Acho bom que ele faça isso. Afinal, alguém precisa torcer. E que eles todos esqueçam, por alguns dias, as dificuldades do nosso tempo, que não são poucas. Os meninos têm tempo para ficar chateados, os problemas podem esperar e estarão por aqui quando o campeonato acabar.
Saio à sacada e fico olhando. Ele me vê e acena. Os filhos, lambuzados de tinta, me acenam e gritam “Brasil!”. Eu aceno de volta e ficamos todos sorridentes, em paz, como se o mundo fosse apenas um imenso campo de futebol e o jogo estivesse para começar.
(Douglas Tufano – 15/11/2022)
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