Nova batalha de Alcácer-Quibir

O bom de morar com irmão historiador é não ter que procurar muito uma ideia pra crônica. Ela já vem de mão beijada. Mas com crédito: obrigada, Ricardo. As quartas de final do lado de lá vão reeditar a célebre batalha de Alcácer-Quibir, em que desapareceu o rei D. Sebastião, fato que ainda hoje mantém vivo o culto sebastianista que crê no retorno triunfal do nosso redentor. Portugal e Marrocos voltarão a se enfrentar 444 anos depois, agora de forma simbólica, e não mais armados de lanças e outros equipamentos letais, e sim munidos de uma bola que, 11 de cada lado, tentarão botar dentro da casinha oposta.
Vai ser a batalha dos prenhes de gols contra os craques em não deixar a meta ser vazada. Afinal, foi assim que Marrocos se classificou. Numa das partidas mais entediantes da Copa do Catar, conseguiram segurar o interminável tiki-taka da Espanha, que pecou pelo excesso de toques e a ineficiência em driblar seus ferrenhos marcadores. Na hora do vamos ver, entrou em cena o anti-herói, o goleiro Bono, um ferrolho que assustou os adversários a ponto de não deixá-los converter nenhum tento.
Adeus, bela e encantadora Espanha! Prevaleceu a defesa.
Na outra partida, não houve meios de deter o poderio ofensivo de Portugal. Mesmo com Cristiano Ronaldo no banco, o belo futebol dos descendentes de D. Sebastião se impôs sobre a insossa Suíça (não fale isso com a boca cheia de farofa). Uma pintura atrás da outra do substituto Gonçalo Ramos (foto, rei morto, rei posto) consagrou nossos coirmãos lusitanos, que chegarão a Alcácer-Quibir com toda a moral pra atropelar a única seleção africana remanescente na competição. Prevaleceu o ataque.
Resumo da rodada: 120 minutos de tédio, 90 de festa, 120 minutos de purgatório, 90 de paraíso pros portugueses, 90 de inferno pros suíços. E o futebol brindando seus fiéis apaixonados com surpresas e emoções sem fim.

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