A WWC estreou comigo envolvida na Feira do Livro de Brasília e tomada por compromissos. No entanto, o desafio da Fernanda de Aragão para que voltasse a publicar as Crônicas da Copa também no certame feminino me pegou pelo orgulho feminista e não pude resistir.
Consegui assistir ao jogo de estreia das francesas (já comentada em outra crônica), à vitória das norueguesas sobre as nigerianas, ao duelo das nossas próximas adversárias e, claro, ao show de Cristiane sobre as lindas e frágeis (futebolisticamente falando) jamaicanas.
A Copa do Mundo Feminina já é um sucesso porque nunca mais o mundo será o mesmo depois que a mulherada se pôs de pé, a reivindicar e cavar, com pés e mãos, dribles e chutes, seu lugar ao sol em qualquer campo do trabalho, da família, do esporte, da arte. A gente do Mulherio das Letras sabe muito bem do que está falando.
Sobre o que vi até aqui, além da alegria de ver nossa seleção reencontrar a vitória e o jogo bem jogado, mesmo sabendo que o difícil ainda está por vir, preciso comentar que:
– Debinha foi fominha demais. Perdemos gols em excesso, que poderão nos fazer falta num eventual empate;
– na ausência da contundida Marta, e já louvado o hat-trick de Cristiane, é Formiga quem mais nos emociona por tudo que representa nesses 25 anos de Mundiais em que veste e sua a camisa;
– a maioria das favoritas está ganhando fácil. No feminino não se encaixa o chavão de que não existe mais time bobo – alguns dos países participantes discrepam demais daqueles que já investem há mais tempo nessa modalidade do futebol;
– isso não se aplica a outro chavão, de que o jogo só termina quando o juiz apita e de que tudo pode acontecer dentro das quatro linhas. Inclusive perder o melhor e ganhar quem não merece;
– por fim, algo gritante: o despreparo de narradores e comentaristas. Faltou um media training pra ensinarem que não cabem mais (nunca couberam, mas cada vez é menos tolerável) comentários machistas e preconceituosos, como elogiar a beleza das meninas, eleger musas ou afirmar que a beleza deve ser valorizada. Já se imaginaram, esses caras, fazendo o elogio da beleza do goleiro Alisson (que é lindo, mesmo) ou votando no “muso” da Copa América, pois a beleza dos jogadores é quesito também em questão? Pra não perder o bom humor, ah, vão se catar!
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Clara Arreguy
Clara Arreguy é jornalista e escritora. Mineira de Belo Horizonte, mora em Brasília desde 2004. Trabalhou nos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, na revista Veja Brasília, em assessorias de imprensa de empresas e governos. Tem 29 livros publicados. Três deles falam sobre esportes: o romance "Segunda divisão" (Lamparina, 2005), o volume de contos "Sonhos olímpicos" (Franco, 2014) e o de crônicas "Futebola - crônicas sobre as copas de 2018 e 2019" (Outubro Edições, 2020), em parceria com Fernanda de Aragão. Um, sobre jornalismo: "Bola Dentro, um furo de reportagem" (Outubro, 2018). Mantém um blog de crônicas e resenhas no site de sua editora: www.outubroedicoes.com.br. E apresenta resenhas literárias no canal da Outubro Edições no Youtube. (Foto: Eugênia Alvarez)
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