Elemento surpresa

Uma das coisas mais chatas no futebol é lugar-comum. Frase feita. Clichê. Como o tal do “elemento surpresa”. O conceito inicial se justificava quando um jogador da defesa, sem que ninguém esperasse, aparecia lá na frente e marcava um gol. Depois disso, virou clichê anunciar: o Paulinho joga de elemento surpresa. O Renato Augusto vai entrar em seu lugar para ser o novo elemento surpresa. E aí, adeus. Acabou-se o susto, e a única surpresa, mesmo, são os resultados incríveis, inusitados, inesperados, como os que estão acontecendo nesta primeira rodada da Copa do Mundo.

O empate do Brasil com a Suíça nem tanto, que essa seleção vez ou outra apronta pra cima de nós. Mas a vitória do México sobre a poderosíssima Alemanha campeã – essa sim foi o elemento surpresa desse domingo. Assim como a Messi perder pênalti, Argentina trombar no iceberg islandês ou os gols contra (pobres goleiros, surpreendidos pelo fogo amigo).

Cristiano Ronaldo deixar logo três, sustentando, praticamente sozinho, uma seleção (Portugal) tão inferior a outra (Espanha), não entra nesse rol de clichês. O brilho do português não é surpresa nenhuma.

Como não me surpreende que o Brasil tenha enfrentado, como principal adversário, em vez da Suíça, o próprio Brasil. O favoritismo, mais uma vez, foi inimigo de um time bom, mas que ainda não demonstrou o equilíbrio emocional, o controle mental, dos grandes campeões. Calma, gente, eu disse “ainda”. Continuo achando que dá, mas que pra isso precisamos evoluir nesse quesito, para não cair na armadilha do choro, da leitura errada do jogo.

Os donos da verdade televisada decretaram que a arbitragem prejudicou a seleção brasileira. Acho mesmo que houve falta no Miranda no gol suíço, mas não vi pênalti no lance reclamado a nosso favor, e creio que o resultado, infelizmente, foi justo. Elemento surpresa? Pra quem?

Houve outros momentos de surpreendente emoção na estreia brasileira na Rússia: o balão vermelho que surgiu para ser pisoteado sem dó pelo belo Alisson; o penteado do Neymar (que aliás já passou da idade de cuidar mais disso do que da serenidade ao enfrentar os marcadores); a entrada em campo do Zacarias, enquanto Dedé ficou no Brasil, entre os 35…

Pelo andar da carruagem, muitas surpresas ainda virão. Seu nome, por enquanto, é zebra. Como a da guacamole sobre o chucrute. Que delícia! Pode complicar pra nós ali na frente, mas é isso que faz maravilhoso o futebol. O esporte em que o inusitado, o incrível e o improvável sempre entram em campo. Para deleite e surpresa dos fãs.

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