Morreu Pelé. Morreu parte de minha identidade como pessoa e principalmente, brasileiro. Desde pequeno, meu pai mencionava o quanto Pelé era diferenciado enquanto jogador de futebol. Mas ele era, naturalmente, muito mais do que isso. Lendas ou fatos a seu respeito existem aos milhares. A de que foi capaz de causar um armistício temporário numa guerra entre dois países africanos para que os combatentes pudessem assisti-lo jogar pelo Santos. O mais prolífico marcador de gols da história. Capaz de chutar e driblar com os dois pés. Exímio cabeceador. Goleiro capaz de defender pênaltis. Todos fatos. Cidadão do mundo, recebido por chefes de estado, celebridades, o Papa. Fato. Embaixador do esporte, primeira celebridade esportiva a nível mundial. Milionário. Enfim, o homem foi e é uma potência.
Ao publicar uma singela homenagem a ele numa rede social, fui criticado por não me atentar ao fato de ele não ter reconhecido uma filha, nascida de uma relação extraconjugal, Sandra, já falecida. Eu nunca quis homenagear o homem Edson Arantes do Nascimento. E tampouco, me considero apto a julgar atitudes alheias, por mais duvidosas que pareçam ser. Meu foco principal era homenagear o jogador e o mito em que este se transformou.
Mas, voltemos ao título desse despretensioso artigo. Fernanda e Márcio nos pediram, aos articulistas do projeto “Crônicas da Copa” que escrevêssemos umas linhas a respeito da partida do Rei. Para dizer a verdade, eu já tinha a intenção de fazê-lo, haja vista que ando meio ausente do site por razões diversas que vou resumir em excesso de trabalho de final de ano.
Eu cresci nos distantes anos sessenta. Rapazinho tímido, do interior, que, no entanto, devorava dois jornais por dia e várias revistas por mês. As referencias esportivas brasileiras naquela época era poucas: a própria seleção brasileira, bicampeã mundial, Eder Jofre (também falecido recentemente) grande pugilista e campeão mundial, o incrível Ademar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico do salto triplo; a injustamente esquecida e gigantesca Maria Ester Bueno e o mais olvidado ainda, o grande nadador Abilio Costa Couto, seis vezes campeão mundial de natação em águas abertas, primeiro brasileiro a atravessar o canal da Mancha a nado, condecorado pela Rainha Elisabeth e tudo o mais. Como se vê, contavam-se nos dedos os nomes das celebridades esportivas brasileiras. E Pelé estava sempre no topo da lista.
Depois vieram muitos outros esportistas de valor. Nas pistas tivemos Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, para ficarmos somente nos campeões mundiais. Bem mais tarde, tivemos Guga, a linda Daiane dos Santos na ginástica, as Hortências, Magic Paula e Janet e tantas outros no basquete feminino. Oscar, Marcel & cia; cia no basquete masculino. Antes, para sermos justos, o Brasil também foi bicampeão mundial de basquete masculino numa linda geração de Amaury, Wlamir Marques e outros.
Mas eu estava falando da década de sessenta. E subsequentemente, da primeira vez que sai do Brasil. Início da década de 80. Menino tímido, do interior, ao me identificar, na Inglaterra, inglês para lá de precário, a nacionalidade: “brazilian” – imediatamente a resposta era um simpático “ah, Brasil= Pelé” “. Naquela época o substantivo Brasil era praticamente sinônimo do substantivo Pelé.
Eu nunca tive a oportunidade de conhecer Pelé pessoalmente. Só o vi jogar pela TV e depois, em muitos vídeos. Acompanhei de longe sua carreira. Sou palmeirense, mas meus irmãos Enzo e Alex são santistas por causa única e exclusiva do Rei. Assim como milhares de outros brasileiros que não cogitavam torcer por um time que não tivesse em seus quadros o melhor. Indiscutível. Muito se falou de Garrincha. Grande Garrincha. Mas Pelé foi mais completo. De Zico, simpático e craque. Discípulo do mestre. Rivelino. Romário, Ronaldo, Ronaldinho. Maradona. Todos grandes craques. Mais recentemente, Neymar, Cristiano Ronaldo, o recém campeão mundial Messi. Mbappe. Zidane. Poderia ficar aqui dias a desfilar nomes e você pode perguntar a cada um deles qual foi o maior jogador de futebol que existiu e a resposta será apenas uma: Pelé!
O homem Edson morreu. Vítima de um câncer. Igualado na morte a todos nós. Democrática morte. Mas seu legado é eterno. Não foi perfeito, mas como já disse acima, não vou julgar. Vou apenas reverenciar e agradecer a oportunidade de presenciar talento puro em ação, em explosão. Obrigado, Pelé. Descanse em paz, campeão!
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Cezar Fittipaldi
Escritor diletante, ourinhense de nascimento e coração, professor de escola pública, ex-empresário, eterno sobrevivente nesse país de desafios, encara a vida como uma gigantesca obra literária em tempo real. Seu esporte favorito é o automobilismo, gosta de basquete, atletismo, natação e o futebol já foi mais apreciado. Já assistiu a numerosas copas do mundo, todas pela televisão, e torce comedidamente pelo time do Brasil, sabendo separar ufanismo e nacionalismo de amor ao esporte.
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