A efêmera ilusão da glória vã

Reflexões no calor da hora sempre são subjetivas demais e correm o risco de perpetrarem injustiças. Passadas as críticas 24 horas desde a eliminação da seleção feminina do Copa do Mundo de futebol, podemos então fazer algumas observações.
Toda crônica é, por excelência, subjetiva. E a minha, claro, não poderia ser diferente. Sempre fui meio “ovelha negra”, rés rebelde do rebanho. Por isso abomino quase tudo da cultura woke, do politicamente correto. Por isso, quando vejo a Vênus Platinada (que confesso, não assisto) dar tanto destaque a algo ou alguém, fico com os dois pés atrás. E não poderia ser diferente: com tanta badalação, tanta expectativa criada, moças simples, batalhadoras e abnegadas, foram alçadas a condição de celebridades e, com isso, esqueceram o óbvio, ou seja, como jogar o bom futebol que sempre praticaram.
É muito fácil ser profeta do passado, portanto, vou tentar não cair nessa cilada. Tampouco quero discorrer sobre os aspectos técnicos que fizeram que a participação da seleção feminina brasileira fosse tão aquém do que se esperava (o título, não menos!). A polemica técnica estrangeira com suas idiossincrasias. A tão ressaltada diferença salarial entre Neymar e Marta (que não tem nada a ver no contexto, mas essa tecla foi repetidamente apertada pela grande mídia). A diferença entre Brasil e Jamaica nos campos esportivos e socais.
O que manda mesmo, é o resultado final. Aí, talvez, resida o grande encanto do futebol: a possibilidade de, de vez em quando, um desavisado Golias sucumbir a um aplicado Davi. Muitos exemplos desses no futebol masculino, onde chamamos resultados inesperados de “zebras”. No futebol feminino, a rigor, nunca fomos potência. Seria interessante para os mandatários de plantão, sempre dispostos a entrar de “papagaio de pirata” em selfies alheias um campeonato mundial. Seria interessante para parte da mídia, comercialmente voraz esse mesmo campeonato. Mas não era para ser. E por um motivo relativamente simples: a CBF que comanda desde sempre os destinos do futebol brasileiro é uma entidade com estrutura arcaica e dirigentes saídos diretamente das cavernas, incapazes de olhar para o quadro maior.
Não se investe como poderia ser feito em categorias de base. Não se planta com paciência e carinho o que se espera colher décadas depois. Aqui, e não só no futebol, a mentalidade imediatista prevalece e, apesar de termos alguns brilharecos, a continuidade é perdida. Em outros esportes tivemos exemplos de atletas excepcionais, que lutando bravamente contra a mentalidade “tudo ou nada” brasileira, tiveram seus auges muito mais graças á méritos próprios do que a uma estrutura preparada para lançar e amparar campeões. Exemplos? Guga, no tênis, os judocas medalhistas, Eder Jofre, Abilio Couto (falecido nadador brasileiro de grandes distâncias, seis vezes campeão mundial em aguas abertas e primeiro brasileiro a fazer a travessia do Canal da Mancha),Maria Ester Bueno (brilhante, brilhante tenista), Ademar Ferreira da Silva e alguns outros “fora da curva”. Não quero cometer injustiças e esquecer gente, mas já estou esquecendo vários.
O que quero dizer com isso é que, com exceção de exemplos pontuais de atletas com grau enorme de talento e dedicação, nunca primamos por um planejamento técnico adequado. Há exceções, poucas. Rebeca de Andrade é fruto de investimento na ginástica e uma dose maciça de talento natural. O futebol feminino, tão bonito até há algum tempo atras, se tornou vítima da síndrome das celebridades instantâneas, tão típicas dos tempos atuais: jogadoras com suas mansões, seus carrões, suas namoradas etc.. Esqueceram de treinar, talvez, de se concentrar no que era importante. E o fiasco foi amplificado por expectativas criadas e aumentadas por aqueles que vivem do sensacionalismo e se banqueteiam na glória e, principalmente, desastre alheios.
Agora, é recolher os cacos e levantar as cabeças e seguir em frente! Até os jogos olímpicos. Simbora!

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