MADAME AYSHA E O FUTURO DA COPA
O livro “Quando É Dia de Futebol”, reúne crônicas e poemas de Drummond, publicadas no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil entre as Copas de 1954 e 1986. Um olhar por vezes lírico, por vezes dramático do já nem tão nobre assim esporte bretão.
O futebol sempre envolve drama e poesia, se bem que Feola, meu cachorro vira-latas que tem complexo de gente, tenha uma visão mais crítica. Diz (ou late) ele que o futebol começou como um esporte amador, depois virou um negócio e atualmente é uma negociata (ou várias).
Estávamos nesta discussão no café da manhã do hotel aqui em Doha, tomando nosso chá de pelo de camelo quando o Alexandre Brandão chegou esbaforido. Alexandre é nosso parceiro de reportagem. Junto comigo e com Feola, compõe o Trio de Doha, os jornalistas mais procurados aqui no Qatar, Seja por torcedores, jogadores, técnicos ou pela polícia do Emir.
Mais uma vez ele tinha um furo de reportagem e ordenou que eu e Feola largássemos imediatamente os deliciosos bolinhos de pelo de camelo. Íamos entrevistar Madame Aysha, a vidente mais procurada do Katar, seja por torcedores, jogadores, técnicos ou pela polícia do Emir.
Chamamos dois camelubers, o transporte mais popular em Doha, e pensamos: vamos conhecer o lado contemplativo e misterioso do Catar e toda a tradição mística do Oriente Médio. Mas Madame Aysha nos recebeu no 49º andar do prédio mais moderno do país, onde tudo funciona à base de Inteligência Artificial. Na portaria, você pisca uma vez e todas as informações suas e de sua família, incluindo antepassados até a oitava geração e pets, surgem numa tela. E se você piscar duas vezes, a polícia do Emir aparece do nada e te leva preso por homossexualidade.
Madame Aysha a vigésima entrevista do dia com o tornozelo do Neymar e nos recebeu. Foi uma surpresa. Ela mais parecia a CEO de uma multinacional. Dissemos isso e ela confirmou que realmente dirigia a maior multinacional de vidência do mundo, tendo previsto a vitória de Lula e seu número exato de eleitores, com endereço e cpf de todo mundo, a demissão de Dorival Júnior do Flamengo e o caso Trump-Michele Bolsonaro. Perguntamos: que caso? E ela respondeu: ah, esse ainda não divulgamos, né? Deixa pra lá, vamos falar de Copa. Madame Aysha nos fez revelações estarrecedoras.
– O Brasil vai jogar a final contra a França. E com Neymar. Mas no intervalo do primeiro pro segundo tempo, o atacante abandona o jogo, compra um emirado vizinho ao Qatar, se autoproclama Emir, constrói um estádio para 200 mil pessoas e não deixa ninguém entrar. Passa o resto da vida fazendo gols e se jogando no gramado.
– Aos 30 minutos do segundo tempo da final, tropas catarinas invadem o gramado e prender todos os jogadores. Eles são substituídos por uma seleção de camelos e outra formada pela polícia do Emir.
– No dia seguinte a Fifa suborna a Máfia. As duas entidades invadem o Catar e dão 200 chibatadas no Emir. Ele gosta.
– A Fifa e a Máfia negociam com o PCC a realização de mais uma Copa no Brasil e leiloam o título de campeão da Copa de 2022, que é comprado pelo Vaticano. A Igreja Universal não aceita o resultado. Estoura a Terceira Guerra Mundial.
Quando Madame Aysha encerrou suas previsões, Feola estava escondido debaixo da mesinha de centro, com o rabo entre as pernas. Alexandre e eu nem conseguíamos falar. Foi ele quem rompeu o silêncio: você põe a mão no fogo por essas informações? Com ar solene, a vidente declarou: sempre botei e nunca me queimei. Mas encerrou nossa entrevista dizendo: olha, nesse caso até eu estou insegura. Sabe como é, né? Futebol é doze contra doze.