Diários do Castelo na Copa – 4

Cativeiro, teu nome é surpresa. Pois não é que um dia após eu escrever que o sequestro estava em compasso de espera, nos soltaram? Na verdade, não foi bem uma libertação. Ao sairmos da tenda para lavar o rosto, não havia mais ninguém no acampamento. Os terroristas tinham se escafedido. Imagino que souberam de algo e puxaram a pick-up. Comecei a abraçar o Canarinho, aliviado e feliz. Só que ele me empurrou, todo pistola. E gritou:

– Me larga, pô, vamos sair fora. Vai que um drone lança um míssil em cima da gente, mané!

Saímos correndo pelo areal. Cai de joelhos, dez minutos depois. O Canarinho Pistola, mais em forma do que eu, só conseguiu ficar no pique por 15 minutos. Quando nos recuperamos, tomamos o resto de água que havia no copo plástico da FIFA, e procuramos nos reorganizar.

– Pássaro tem um ótimo sentido de direção. Pra onde você acha que vamos? – eu disse, atordoado pelo calor.

– Na direção do sol. Um dia deve dar em Doha – respondeu meu companheiro de confinamento.

Fomos indo pelo caminho sugerido. Bem devagar para poupar energias. Nem sei quantos dias levamos nessa tocada. Quando nossa pele já estava soltando, demos de cara com o Fábio Rabin. Não entendi o que um cara de stand-up estava fazendo naquele inferno. E ainda por cima chorando.

– Eles quase me matam, por pouco não perdi a vida – repetia o comediante, em looping.

Muito estranho. Por outro lado, não devíamos estar tão longe assim da sede da Copa. O Canarinho Pistola estava trabalhando melhor do que um Waze.

Nunca vou me esquecer de duas coisas na vida. A primeira foi quando vi um estádio, em seguida prédios. A segunda foi ao notar que algo voava em nossa direção numa velocidade absurdamente alta. Na hora, saltei sobre o Canarinho Pistola e o empurrei ao solo.

– Deita aí, é o míssil que você falou!!! – alertei.

Tentamos proteger as cabeças. O artefato caiu a 100 metros dali e levantou um poeirão. Aguardamos um pouco até que o campo de visão ficasse nítido para ver do que se tratava. O Canarinho foi na frente.

– Toma cuidado! – recomendei ao parça.

Ele ficou um tempinho no local onde a coisa caíra. E, de lá, me informou:

– Tá tudo sussa. É o Tite.

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