Infelizmente, o Galvão não teve acesso ao vídeo que mandei à Rede Globo. Nele, um rapagão mascarado do Talibã me jogava no lago de um oásis, de bruços, amarrado a 30 bolas de futebol. Antes, eu dizia à câmera, chorando: “se o Irã não ganhar a Copa, vão me deixar boiando aqui pra sempre”.
Era a condição da rapaziada aqui para me soltarem do cativeiro no deserto da Arábia. Em função disso, meu sequestro entrou em compasso de espera. Não me passaram na cimitarra, nem me libertaram. Sendo meio poliana – no fundo é o que resta aos homiziados – eu poderia afirmar: “no fake news, is good news”.
Minha avó, pessoa da mais alta espiritualidade, sempre me deu bons conselhos. Uma vez contou que, mesmo em situações adversas, podemos colher algo de positivo. Pois não é que a matriarca tinha razão? Estou preso num porão sujo, bebo água apenas uma vez ao dia, a atenção para com os camelos é muito maior do que para comigo, mas…acabei virando room mate do Canarinho Pistola!
Pois é. Só que esse Canarinho que aparece na TV é falso. O real foi apanhado, após o jogo com a Sérvia, e trazido aqui para o acampamento dos terroristas. Foi ele quem me bateu sobre o golaço do Richarlison, as contusões de Neymar e Danilo.
Os homens do Talibã aproveitaram o momento em que o Canarinho Pistola tomava uma na Fan Fest de Doha, o trajaram de muçulmana, de burca e tudo, e o jogaram na pick-up. Apesar dos milhares de torcedores em volta, não houve reação. No Catar, surrar uma mulher, mesmo ela sendo um pássaro, é algo normal do dia a dia.
Agora, estão pedindo milhões de riales catarenses para libertar a nossa mascote. Apesar do alto montante, a exigência financeira vem sendo o menor dos problemas. Sucede que os xiitas querem, porque querem, que o Canarinho Pistola grave o pedido de resgate fazendo a dancinha do pombo. Para ele, é uma desonra aparecer nas redes sociais imitando um animal que, de seu ponto de vista, é asqueroso. Segue o impasse.
Ouvimos dizer até que um sheik mandou o seu falcão para tentar convencer o Canarinho Pistola. Só espero que o bicho não me pergunte qual deve ser a pena para a desobediência do meu companheiro de quarto.