A Copa do silêncio

Essa é uma Copa silenciosa.
Lembro-me de quando era criança: a Copa de 70. Não só durante os gols do escrete canarinho havia uma saraivada de bombas, bombinhas e traques dos mais diversos calibres. A artilharia já começava bem antes das partidas e seguia por horas a fio depois de seu final.
Eu mesmo, para economizar os caramurus mais barulhentos, tinha lá meus expedientes pessoais para representar nossa casa com dignidade na competição de quem fazia mais barulho na rua Engenheiro Francisco Azevedo, no Sumarezinho de baixo – onde passei a adolescência.
Pegava uma lata de ervilha ou de extrato de tomate jogada no lixo, acendia o pavio de um minimorteiro de 50 centavos de cruzeiro e corria. O resultado era um tiraço retumbante, uma lata voando e um menino feliz. O que, no frigir das latas, era um espetáculo pirotécnico caseiro.
Hoje não é mais assim. Há até quem defenda os fogos de artifício sem som. O que equivaleria à banana split sem a banana. Ou mesmo aos fogos sem o artifício.
Ontem, durante Brasil versus Sérvia, esperava uma bateria antiaérea no bairro; o que ouvi, no entanto, foi muito aquém dos sons estridentes daquela Copa no México. Aqui ou ali uns papocos, mais ao longe uns relampejos tímidos.
Seria a crise econômica? O poder aquisitivo da minha rua realmente anda tão baixo que, em vez de rojão, os vizinhos devem estar apertando as campainhas na hora dos gols.
Mas talvez seja também o politicamente correto influenciando a ponto de não permitir que animais domésticos sejam molestados por ruídos provenientes da queima de pólvora. A ditadura dos pets.
Ou o pior dos cenários: com o advento do VAR, o titubeio dos árbitros estaria tirando a espontaneidade/simultaneidade das comemorações. Fica difícil vibrar com um gol, mesmo ele tendo sido de letra, cinco minutos após o chute deflagrador do tento.
A situação é uma esfinge. Mas, seja o que for, as Copas, com aquele ribombar de fogos eram mais mais divertidas. Espero que não aconteça o mesmo com o Réveillon. Vai ser bem chocho passar de 2018 para 2019 chacoalhando maracas e soprando apitinhos.

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