NA ODISSEIA AS MENINAS JOGAVAM BOLA
Nós, homens, não devemos nos assustar com esta relação entre mulheres e a bola. A coisa é mais antiga do que a gente pensa. Vejam só: no sexto canto de Odisseia, no episódio em que Odisseu sofre um naufrágio perto de Esquéria, ele vai ser socorrido por Nausícaa, filha de Alcínoo, rei dos feáceos.
Odisseu estava dormindo no meio do mato e é acordado por vozes femininas: Nausícaa e suas escravas estavam jogando bola, jogando bola, jogando bola! E a bola, fugitiva como é costume a esse lépido e astuto objeto, cai no rio e a mulherada apronta maior fuzuê. Então Ulisses acorda, e acaba conhecendo a filha do rei, e é conduzido à Feácea. E dali é que vai encontrar condução para regressar a Ítaca e aos pés, digo, aos braços de Penélope.
É preciso dizer que os olhos de Odisseu (ou Ulisses) ficaram cintilantes quando viram as meninas que jogavam bola. E é aqui que entra meu pitaco principal nesta crônica sobre a Copa de Futebol Feminino: vocês reparam como os olhos das meninas que jogam bola são também jogadores? Como eles se mexem, como giram, como são expressivos, como dialogam mudos com as outras companheiras? Nunca notei esse desempenho no futebol masculino.
As meninas dos olhos das meninas que jogam bola: como atuam, faíscam, riem e zombam, ironizam e suavizam diante de certas jogadas.
Encantou-me, sobremaneira, os olhos de Catalina Pérez, goleira da seleção da Colômbia. Eles, os olhos, comandam, instigam, censuram, agradecem, aplaudem. Essa goleira ainda não é uma balzaquiana, tem menos de 30 anos, tem dupla nacionalidade (colombiana e norte-americana) e jogo no Avaí/Kindermann, de Santa Catarina. E o nome dela é quase Catarina. E os olhos dela são dignos de uma Odisseia.