Era um começo de dia com ansiedade. A Seleção jogaria suas fichas de classificação contra a Jamaica.
A TV já estava ligada, quando Pedro, do alto da sabedoria dos 08 anos, perguntou:
– Papai, por que vai ter aula se a Seleção vai jogar?
Após um silêncio momentâneo, a mãe respondeu:
– Para você ver, Pedro, a diferença de tratamento que existe entre Homens e Mulheres. Meses atrás, o Brasil parava para ver os jogos; agora com as mulheres é diferente.
– Acho que vão colocar o telão para vermos o jogo lá no Colégio – respondeu pensativo entre uma fruta e outra.
Corri para deixá-lo ali nas cercanias dos incansáveis estudos. Na volta, ainda no carro, procurei nas rádios que tradicionalmente transmitiam jogos de futebol e somente uma estava transmitindo a partida decisiva.
Duas horas depois, a rainha Marta se despedia da Copa do Mundo.
À noite, perguntei para o Pedro se tinha assistido ao jogo com os amigos. Ele apenas balançou a cabeça negativamente, lembrando da tabuada que a professora tinha passado na lousa: “qualquer número vezes zero era igual a zero”.