Terceiro jogo: A batalha além de Camarões

Nosso famoso Joãozinho acordou cedo. Na verdade, mal dormiu diante da ansiedade. Escolheu sua camisa amarela no armário, tomou café e partiu para a escola. A camisa era a mesma dos outros jogos, afinal tinha dado sorte. Já tinha a piada do dia pronta para fazer com sua professora.

Zé Adamastor acordou cedo. Na verdade, mal dormiu diante da ansiedade. Estava animado. Os pens drives haviam chegado nas mãos das autoridades Cataris. A esperança reinava no acampamento. Alguns ainda relutavam em ainda usar a camisa da Seleção. Adamastor não, sempre teve orgulho da amarelinha. Hoje, vestia sua camisa amarela apertada, mas bem conservada, de 1982.

Do outro lado da rua, o soldado João olhava incrédulo aquela multidão na frente do quartel e, com ansiedade, esperava o momento de encontrar Joãozinho na hora do jogo.

Zé da Silva acordou cedo. Na verdade, mal dormiu diante da ansiedade. Tinha que acordar cedo para trabalhar. Estava com ranço da camisa amarela. Tinha perdido o encanto por brigas políticas na família. De Esquerda, era radical demais para aceitar a amarelinha de volta. Antes de sair, olhou para a camisa da Seleção de 1982 no armário e pensou: “O que meus camaradas irão falar?”

Ali na rua tinha um senhor sem nome. Talvez, fosse outro Zé. Mal dormiu diante do frio e da fome que sentia. Sabe que a Copa começou, mas não tinha ideia de quem estaria jogando. Há muito tempo atrás tinha casa e trabalho. Hoje tem poucas recordações, mas tem lembranças vivas de Zico, Falcão, Sócrates e da camisa de 1982 que ele tinha guardada no armário, quando tinha casa e não sentia fome.

Não deixaram Zé Adamastor assistir ao jogo no acampamento. Chorou sozinho na sua barraca com sua amarelinha de 1982. Não escutou fogos, não sabia se o Brasil havia vencido.

Zé da Silva combinou com uns camaradas num bar lá no centro de São Paulo. Todos de vermelho. Lembrou-se da amarelinha, guardada em sua mochila. Escutou uns desaforos, quando defendeu a simbologia da camisa amarela. Aquietou-se em seu canto e continuou a torcer por um gol do Gabriel Jesus.

Aquele sem nome dormiu abraçado com seu vira-lata. Não sabiam que o jogo do Brasil rolava lá longe. Sonharam com a vitória sobre a Itália em 1982.

João chegou em casa e assistiu ao jogo contra Camarões com seu filho Joãozinho. “É nossa terceira final”, dizia.

No final do jogo, gol de Camarões. Abraçou Joãozinho e olhou para a foto no porta-retrato. Ele, João, era a criança com mais três adultos. Joãozinho sequer conheceu uma daquelas pessoas. Todos vestiam a camisa da Seleção de 1982 naquela foto de 40 anos atrás.

“Melhor perder agora, vai nos fortalecer. Que venha a Coreia do Sul, nossa quarta final”, disse novamente para Joãozinho, que saiu e foi chutar sua bola no quintal.

João, de família comunista, tinha sido líder estudantil; depois de tudo que viveu nos últimos anos, odeia Política.

Na parede, havia uma camisa da Seleção emoldurada num quadro. Guardada com orgulho, um dia seria a herança para Joãozinho. Era a número 8, daquele que defendeu a Democracia.

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