(Não) Era um domingo como qualquer outro

Pedro, mais uma vez, resolveu dormir na sala, estirado no sofá. Era a terceira vez após o começo das férias escolares. Brinquedos para lá, almofadas para cá, travesseiros e cobertor, enquanto os primeiros raios solares raiavam pelos vidros da sacada, iluminando a decoração de Natal. Para ele, era um domingo como qualquer outro.

Como sempre, acordei cedo. No caminho até a padaria, encontrei cinco brasileiros com a camisa da Argentina e dois franceses (com cara de franceses mesmo) com a da França. Eu, ainda na dúvida sobre qual camisa escolher, decidi por uma neutra, onde se lia apenas “I don´t believe in Humans”. Horas depois, começaria a final da Copa do Mundo de 2022 entre Argentina e França, entre Messi e Mbappé e seus coadjuvantes. Para mim, não era um domingo qualquer.

Algumas horas depois, vimos a história sendo construída, testemunhando a maior final de todas as Copas do Mundo. Messi, Di Maria, Mbappé, Mbappé, Messi e Mbappé, três a três no fim da prorrogação. Depois, só deu Argentina e o seu goleiro maluco nos pênaltis, resultado final quatro a dois e o tricampeonato mundial para eles.

Imagino que todos os textos, palavras e adjetivos já tenham sido escritos ou falados sobre esta conquista e Leonel Messi. Muitos brasileiros torceram pela Argentina por conta dele; no fundo, Leo realmente merecia ter esta taça no currículo, só não merecia ter nascido argentino.

Messi havia se “maradonizado” e se tornado maior que o “Dios” deles. Finalmente, as piadas e musiquinhas seriam deixadas para trás. Finalmente, Messi e o Vampeta tinham uma Copa do Mundo.

Em seu provável último jogo de Copa do Mundo, Leonel Messi se tornou o maior jogador de futebol do século XXI. Exagero? Não! Talvez, agora tenhamos que colocá-lo na disputa como um dos maiores atletas do século XXI ao lado de Serena Williams, Tom Brady, Lebron James, Michael Phelps, Marta, Usain Bolt, Lewis Hamilton, Simone Biles e Roger Federer. Exagero? Não!

Daqui alguns anos, quiçá uma década, possamos discutir se Messi é o atleta do século XXI ou não. Exagero? Também não.

Cansado das emoções vividas, agora era eu quem permanecia estirado no sofá, enquanto o vento uivava pelos vidros da nossa sacada. Neste momento, Pedro foi se trocar, pois ainda tinha uma aniversário de uma amiga para ir. “Que preguiça!!”, pensava comigo mesmo.

Minutos depois, voltou com a camisa amarelinha, número 10 nas costas e personalizada com seu nome. Nos pés, calçava uma chuteira do Messi. Uma sementinha havia sido germinada. Pedro só saberá daqui alguns anos, mas a Copa do Mundo havia mexido com ele. Seu coração enxergava o mundo com outra cor. Na festa, os amigos o chamaram de Menino do Brasil, ganhou o primeiro pedaço de bolo da amiga, mas, para ele, ainda era um domingo como qualquer outro.

Vê-lo com a camisa do Brasil me fez lembrar da necessidade de resgatar nossos símbolos nacionais. Me deu coragem. Com orgulho, tirei a minha camisa amarela da gaveta e o acompanhei pelas arruaças das matinês. Para mim, não era mais um domingo qualquer.

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