Esses dias fiquei pensando como seria se minha vida fosse uma Copa. De 4 em 4 anos, eu contrataria um técnico encarregado de me tornar campeã do mundo. Ainda que eu estivesse fora de forma, desacreditada e quase sem apoio da torcida, ele apostaria em mim.
De manhã, principalmente nos dias gelados, ele me arrancaria da cama e me faria uma bela preleção: acorda aí, campeã. Vamos partir com tudo pra essa segunda-feira. Levanta essa cabeça e vai tomar um banho. Sem moleza, que o cachorro tá esperando pra passear.
E pra quê se preocupar com o guarda-roupa? É só colocar o uniforme e entrar em campo confiante. Depois, olhar satisfeita um monte de desconhecido na rua, vestindo a mesma camisa, com o meu nome gravado nela.
As crianças também iriam brigar para ter uma figurinha com o meu nome, mesmo que eu me chamasse Wantuir. E eu poderia fazer o que quisesse com o meu cabelo que seria moda.
Pra que pagar academia? Eu teria uma só para mim, com personal, fisioterapeuta, nutricionista e massagista. E todo dia o mundo ia querer saber se eu estava bem.
Se por acaso a vida me goleasse num sete a um, o Brasil ia chorar comigo. Eu viraria meme, conversa de bar, assunto no Fantástico.
Viajaria o mundo em jatos de luxo. Teria festas descomunais cada vez que vencesse um adversário.
Levaria alguns chutes na canela, sim, mas sairia aplaudida. E sempre que isso acontecesse, haveria um juiz pronto para vingar essa injustiça.
Fariam um funk com o meu nome e eu ganharia milhões em publicidade. Comentaristas discutiriam meus feitos em rede nacional. E cada jogada certa que eu fizesse viria acompanhada de muitos replays.
Quando estivesse cansada, iria para o banco. Penduraria as chuteiras cedo, posaria nua, me envolveria em polêmicas.
Seria paga para levantar muitas taças. E no final de tudo, ainda sairia carregada, nos braços da torcida, aos gritos de “É Campeã”.