Perdemos, mas não tenho coragem de falar mal da seleção. Nem sei se a palavra é coragem. Acho que pode ser conhecimento. Não tenho conhecimento para dizer que esta seleção é ruim como li em alguns nocivos comentários pelas redes sociais. Jogaram mal, isto é verdade. E contra um time que soube (coisa difícil) jogar pelo empate e abusou do “cai-cai” para ganhar segundos ou esfriar o jogo. Contra elas, não valeu a máxima do “quem não faz, toma”. Jogaram com um espírito de quem não faz, segura o resultado. Fizeram um jogo feio, mesmo assim, parabéns às meninas que me trouxeram a lembrança do “Jamaica Abaixo de Zero” , sucesso do cinema nos anos 1990 e um clássico na Sessão da Tarde. No filme, um improvável e desacreditado time de trenó na neve sai do calor do Caribe para competir nos Jogos Olímpicos de Inverno do Canadá. Os atletas de bobslead (este é o nome técnico do esporte) só chegaram ao país frio depois de muita determinação e sacrifício.
Num roteiro semelhante ao filme, soube que as jogadoras precisaram pagar sua própria bagagem e se mantêm na Austrália às custas de dinheiro arrecadado em uma vaquinha. É bonito, a gente gosta de ver o lado romântico das coisas, mas não explica tudo. O Brasil fez o seu pior jogo, mesmo com um bom time. A absoluta necessidade da vitória teve o seu peso, mas chegamos a isso por erros também no jogo anterior contra a França. A comissão técnica – e não as jogadoras- errou na tática muito defensiva do início daquele jogo. E se houve um erro das jogadoras, talvez ele estivesse na obediência, um comportamento que quase sempre elogiamos. Seguir as ordens técnicas privou o time de jogadas individuais. Penso que ainda precisamos amadurecer até encontrar o equilíbrio entre os lances estudados, o espírito de equipe e as saídas criativas, mas estamos no caminho certo e, em breve, nos afirmaremos de verdade, como uma grande seleção.
A declaração de Marta, depois do fim da partida, foi sincera e emocionante. Perder nos grupos chega a ser humilhante, mas ela conhece toda a luta do futebol feminino e, por isso, muito mais que lamentar, usou palavras de incentivo às novas jogadoras e ao futuro do futebol feminino. Como na música do jamaicano Jimmy Cliff, o que ela disse, faz a gente “agora enxergar claramente” que a maior atacante de todos os tempos vai se aposentar, mas não vai abandonar o jogo. Fora do campo, ela será também gigante.