Torço pelo Brasil, com ou sem Neymar, bom de pé, ruim de cachola. Mas a Copa não são apenas os jogos do escrete canarinho, são 64 entre 32 seleções. Não é possível ser isento nessa profusão de disputas.
Normalmente, estou com os mais fracos. Jogam Catar e Holanda, torço para o anfitrião. Isso obviamente me traz alguns inconvenientes, como o de gastar minhas boas energias com um país onde os direitos humanos são vilipendiados sem cerimônia. Mas, no futebol, é o elo fraco, então é com ele que eu vou.
Esse critério esbarra em desafios. Entre EUA e Irã, é certo que o Irã é o mais fraco, mas os EUA não são lá grande coisa. Torcer para o Irã (que prefere ser chamado de República Islâmica do Irã) me faz bater palmas para uma teocracia autoritária, ainda que, no momento, me faça aplaudi-lo como, aliás, tenho aplaudido, de pé, a insurgência feminina que toma o país desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, presa pela polícia da moralidade por não usar corretamente o hijab. Já se me sento na arquibancada americana, digo sim ao imperialismo secular, embora também diga sim ao país de onde saem tantos movimentos de alcance mundial, como o black lives matter.
Mas é futebol, caramba. Ah, sim, me desculpem o tropeço, caí sozinho, ainda que não tenha simulado a queda. Voltando: torço para os mais fracos e, olhando para a frente, me alegro por Japão, Marrocos (ambos em primeiro lugar em seus grupos, deixando para trás Alemanha e Bélgica) e Senegal terem passado às oitavas de final, momento em que sobram 16 times apenas. Começo a pensar nos confrontos e, entre Holanda e EUA, vou de EUA, mesmo porque a Holanda, que atrai minha simpatia por tantas razões, já aprontou, em campo, algumas poucas e boas com o Brasil.
Na disputa entre Argentina e Austrália, deveria ir de Austrália tanto por ser um time limitado como por ser um país que acolhe muitos brasileiros, inclusive um de meus afilhados, mas, poxa, Messi bem merece ser campeão. Merecer, merece, só que, se o Brasil continuar avançando, teremos de tirar o doce da boca do craque.
Torcedor não é só quem sofre com os jogos, é também quem tem ideias sobre o campeonato, e eu tenho. Não dá para fazer uma Copa sem grandes jogadores de seleções não classificadas. O Egito do Mohamed Salah não conseguiu lugar entre as 32, tudo bem, mas o atacante do Liverpool tem de jogar assim como alguns jogadores da Itália e de outras bandeiras. Minha sugestão então é que se monte um catado de craques cujos países não foram competir, uma seleção (Resto do Mundo Futebol Clube) de antemão classificada. Comentei sobre isso com meus filhos, e eles logo escalaram a equipe. Não tenho conhecimento para tanto, mas sei que o italiano Donnarumma defenderia a trave desse time de última hora e, lá na frente, o egípcio tentaria macular a do adversário.