Imagine um garoto da periferia correndo atrás de uma pelota feita em casa e imaginando
que está disputando a final da Copa do Mundo?
Esse é o sonho da maioria dos garotos que nasceram em berço de palha.
Para eles, o futuro tem um só caminho: o da bola.
Eles sabem que outros caminhos existem, mas são todos tortuosos e cheios de buracos.
Não que correr atrás de uma bola seja fácil. Dominá-la então, muito difícil.
Mas, se esse garoto sente intimidade com a pelota, sabe que tem alguma chance.
Primeiro, tem que passar em uma das inúmeras peneiras dos times profissionais. São, em média, algumas centenas de garotos disputando poucas vagas.
Tem que ter um empresário para bancar os primeiros anos. Dar uma graninha para a família, pagar a escola, dar lanche, coisas básicas para que o garoto possa se desenvolver no clube no qual conseguiu entrar nas divisões inferiores.
Depois, tem que se adaptar ao padrão exigido pelo técnico. Nada de correr daqui pra lá, driblar meio time, estufar as redes com raiva. Nada disso, tem que jogar para o time, marcar quando o bola está com o adversário, passar para quem está em melhor condição, ser bonzinho e bom caráter também ajuda.
Se tudo isso foi cumprido ao pé da linha, ainda tem o lance da chamada oportunidade. Esquentar banco e esperar a chance de entrar. E, se a chance pintar, explodir no primeiro jogo. Fazer o diabo para que a torcida te veja, que o técnico te respeite, que o empresário aposte mais em você.
Fora isso, tem que ter um bom pai de santo para fechar o corpo. Vai levar pancada, mas não pode ter contusão, nem pensar em ficar alguns meses parado. Quando e se voltar, tem que começar tudo de novo.
Claro que se tudo deu certo, se o garoto passou pelo infantil, juniores, time B e chegou, finalmente, a ser titular, as coisas começam a mudar de figura e a grana entra com mais facilidade. Ai. é só correr para os braços da torcida e gritar goooooollllllll com a alegria de quem trocou uma vida de merda por um sonho de vida.
Ainda falta o feito maior: ser um dos escolhidos para representar o Brasil em torneios internacionais, principalmente a Copa do Mundo.
Se chegar lá, o mundo está aos seus pés . Literalmente.