3 x 3 x 2

O jogo estava pra começar. Era nosso primeiro jogo da Copa de 2018 e, para essa estreia, estava de bom tamanho um Espanha x Portugal, que prometia ser um jogaço. Frio fazia, e a gente jazia no sofá entre cobertores e pipocas, esperando os hinos, esperando o apito, entrando no clima.
De repente a bola rolou. Sem apito, sem hino, sem as emoções iniciais. Os dois times em campo, ensandecidos como se fosse o fim da final. Nosso coração, gelado como nossos pés nus para fora da coberta, envolvidos só pelo jogo, chutando cada um por um time. Escolhemos times diferentes só pra ter mais graça torcer junto separado, em nossa mania de contrariar o lugar-comum, brincar de diferentão. Ou ser do contra mesmo, casal marcando gol contra só pra depois pedir arrego, desculpas, pizza.
O jogo prosseguiu num fôlego só, com o tempo regulamentar totalmente fora do regulamento, pondo de escanteio os quinze minutos do Galvão Bueno e dos pitacos tantos que chutam pra fora toda a nossa euforia.
Desta vez seria só torcida, vibração, quem sabe se gol daqui ou gol de lá. Só sei que o jogo já estava dois a dois quando o improvável se assucedeu. Algo que de longe daria mais assunto que os sete suplícios brasileiros na copa anterior, que de perto ainda são suplício porque brasileiro esquece tudo rápido, menos futebol. É que não tem jeitinho brasileiro contra derrota de lavada maculando o título de país do futebol! Que mais importa?
A bola seguiu rolando, voando, até que… Goool! Goool! Gol contra aqui, gol contra acolá… Três a três! Alguma coisa está fora da ordem (do) mundial quando dois times fazem gol ao mesmo tempo. Quase choro vendo os dois times tristes com três gols. Lembro dos três tigres tristes de um trava-língua, tento voltar a me concentrar nas duas bolas rolando no gramado e… Oi? Eu disse duas bolas? Que pesadelo!
Ouço um apito meio de longe. Abro os olhos e ouço: “você dormiu exatamente o tempo do jogo, querida! Empatou em 3×3!”
“Ah, disso eu já sabia!”, respondi misteriosa!

(Imagem: José Antonio da Silva)

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