As câmeras focalizavam o desespero da Marta, de batom vermelho e chuteiras sem marca esportiva, no banco de reservas, esperando o momento em que a treinadora escutasse os seus pios.
Não seria ainda daquela vez em que a treinadora chamaria a maior da história para entrar em campo.
No mesmo horário, Terezinha sequer sabia que as mulheres jogavam futebol.
Terezinha não tivera acesso à Educação básica, pois seu pai, homem do campo, era daqueles que dizia que lugar de mulher era lavando louça.
Terezinha ia à missa todo santo domingo e foi onde conheceu Robson, homem direito na região. Das mãos dadas na praça durante o namoro, logo se casaram na mesma igreja onde se conheceram.
Terezinha não usava maquiagem, porque seu pai não deixava, assim como Robson, embora se deleitasse com aquelas que usavam ali pelos arredores do coreto da praça.
Com o tempo, toda vizinhança sabia que Terezinha sofria violência no doce lar do casal, pois, como ela não usava maquiagem, as manchas escondidas pelas longas roupas teimavam em aparecer entre uma prece e outra. Ninguém se envolvia, porque além dos costumes dizerem que não deveriam “meter a colher” nos assuntos dos dois, ninguém sabia o que ela tinha feito “para merecer” aquela reação do marido.
Terezinha nada falava, pois aprendeu com a mãe que assim é o casamento. Imaginava apenas se haveria outra forma de casamento… quem sabe daqui 100 anos, quando a Humanidade chegasse ao século XXII.
No mesmo horário, Marta, de batom vermelho e chuteiras sem marca esportiva, foi chamada para jogar, faltando 05 minutos para o jogo terminar. Era a sua chance de lutar contra o placar adverso.
Não seria ainda dessa vez que venceríamos a França numa Copa do Mundo.
Naquele horário, infelizmente a freguesia estava mantida no campo, no lar e na Copa do Mundo.