UM JOGO ÉPICO

Copa feminina, 2023, Austrália: não era um jogo daqueles que antes da partida dizem ser uma “final antecipada”, onde a vitória de um dos lados decide destinos.
Não, não era. Era um jogo de segunda rodada, onde na maioria dos casos, as equipes partem o próximo jogo com chances reais de decidir os termos de sua classificação.
Em campo, Austrália e Nigéria, um jogo sempre interessante, escolas diferentes, sempre a batalha entre o pragmatismo europeu vs. a criatividade lúdica africana, que tanto no masculino quanto no feminino comumente beira a irresponsabilidade… Essa crônica está atrasada, era para ter sido escrita logo a partida do dia 27/07, mas circunstâncias alheias à minha vontade impediram. Cheguei a desistir de escrever dado o atraso, mas o jogo não me saía da cabeça, tornando inevitável extravasar a emoção que me causou…
Foi um jogo épico não pela dramaticidade explícita, mas pelo que revelou (isto é, confirmou) em quão rapidamente a qualidade do jogo feminino evoluiu. Não quero e nem tem como comparar feminino e masculino – a natureza das disputas garantem vantagens e desvantagens – mas é inegável que mesmo tendo pouquíssimo tempo de atividade desportiva profissional, as mulheres já nos oferecem muitos ensinamentos do que seja uma verdadeira disputa esportiva.
A Austrália começou ganhando, algo bem natural por ser o país uma respeitável potência, sempre realizando campanhas sólidas em todos os campeonatos que disputa. Mas eis que a lépida Nigéria, unindo habilidade e uma incrível disposição para se posicionar taticamente, virou o jogo para incríveis 3 X 1. Faltando cerca de 15 minutos para o fim do jogo, não era demais acreditar que o jogo estava decidido até com certa folga.
Mas não era assim para quem observasse a partida e ver que ambos os times continuavam com as expressões fisionômicas tensas, olhar decidido. Para usar uma expressão de combate, ambos os times estavam com “sangue nos olhos”. Mesmo não gostando desse termo, ele explica adequadamente o que se via em campo: a Nigéria, vencendo com diferença de dois gols, não faziam firulas nem catimba, fingido dramáticas contusões quando tomam uma bicudinha na canela e levam as mãos ao rosto; a Austrália, perdendo com diferença de dois gols, não apelava e nem não afrouxava, disputava com garra até lateral, sem um pontapé, uma só deslealdade. E ambos os times – não obstante a incrível disposição – respeitando-se e respeitando a arbitragem mesmo que não fosse perfeita: nada de cercar a arbitra vociferando saliva na cara, como estamos acostumados a ver em outros jogos. Ambos os técnicos, exemplares na sua serenidade, sem os costumeiros chiliques que estamos acostumados a ver em outros jogos…
Um lance: na área nigeriana, pequena área, a bola se mostra acessível para a atacante australiana que pode escolher como fazer o gol e diminuir o placar. Diante dela, Nnadozie, jovem goleira nigeriana, com frieza, espera a cabeçada para simplesmente esticar as mão e recolher a bola. Parecia que ela via os movimentos da outra e da bola em câmera lenta.
A Austrália marcaria mais um gol, o que foi muito justo, premiando sua dedicação e afinco. 3 X 2 diz muito do que foi o jogo em si: uma disputa épica onde qualquer lado poderia vencer. Não houve “nó tático”: só Nelson Rodrigues poderia explicar esse jogo!

Compartilhar:

Curta nossa página no Facebook e acompanhe as crônicas mais recentes.

Crônicas Recentes.