Era uma tarde de verão em Santos. A praia estava cheia. O Rei falecera minutos atrás. Como colecionador, lembrei daquela camisa autografada que sempre sonhei ter pendurada em meu escritório.
Pensava naquele gol contra Pais de Gales na Copa de 58; na final da Copa de 70; até do Governo FHC me lembrei, quando Pelé assumiu o Ministério dos Esportes. No meio de tudo isso, o cansaço dominou mente e coração, trazendo à tona aquele sono perfeito para relaxar debaixo do Sol escaldante.
Quando acordei, a praia já estava vazia, trazendo destaque àqueles que usavam a camisa do time da cidade. Todos com o número 10 nas costas, aquela que Sua Majestade imortalizou. Que fim teria a camisa 10 se Pelé tivesse usado a 11?
Estranhamente, o celular não funcionava e o senhor ao meu lado ofereceu seu jornal. Ali a grande notícia era a goleada do time da cidade sobre o clube alvinegro lá da capital. A manchete destacava: “O maior de todos: Pelé”.
Minutos depois, um jovem negro, forte, não tão alto, mas também não tão baixo, olhos grandes e um sorriso simpático, interrompeu a minha leitura. Disse que estava faltando um para completar a pelada de fim de tarde deles. De prontidão, aceitei.
Aqueles rostos me pareciam familiares, o centroavante parecia o Gylmar; a dupla de zaga, Dorval e Coutinho; o rapaz que tinha me chamado era o goleiro e a cara do Pelé. Tudo estava muito estranho, mas a bola rolava para cá, voava para lá. Nosso goleiro fez milagres inimagináveis, acredito que tenham sido mais de mil defesas naquele jogo. Parecia que estavámos no Estádio Azteca. No final, a comemoração da vitória tal qual fosse um Mundial contra algum clube europeu.
Na despedida, com um sorriso sarcástico no rosto, nosso goleiro me confidenciou que também era corinthiano. Me passou um papel com seu telefone, dizendo para eu ligar quando eu estivesse na cidade.
Sentei novamente e peguei meu jornal. As notícias políticas davam conta dos preparativos para a posse do presidente no próximo domingo. Nenhuma notícia sobre Pelé. Também não deveria, o Rei acabara de falecer.
Olhei ao redor e não vi nenhum daqueles peladeiros.
Teria sido apenas um sonho de uma tarde de verão?
No meu bolso, um papel. Nele, o telefone do Edson.
Será que ainda haveria chance de ter aquela camisa autografada?