QUANDO É A BOLA QUEM DRIBLA VOCÊ.

Pois é. Lá vem mais uma Copa do Mundo de Futebol chegando pertinho e a gente começa a imaginar os dribles que vai precisar dar. As pedaladas, os dribles da vaca, as firulas e os corta-luz. É que a gente tem um adversário temido e ameaçador: o tempo. Quem, como eu, trabalha há muitas copas, sabe que é complicado torcer pela Seleção Brasileira, especialmente nos horários diurnos, sem prejudicar o andamento dos trabalhos na empresa. Nos dias de jogos do Brasil, a ansiedade maior é saber se vamos poder assistir tranquilamente, com aquela cervejinha gelada no copo e depois poder comentar lance a lance, com os amigos ou mesmo com a família. Tirar aquelas horinhas de folga pra ser, antes de mais nada, um apaixonado torcedor brasileiro. Aí é que começam as manobras de craque. Tem que saber ler o jogo, sentir o campo, espreitar as brechas.
Trabalhar durante a Copa do Mundo é tarefa delicada e, muitas vezes, frustrante. Algumas empresas costumavam liberar os colaboradores em dias de jogos do Brasil. Dependendo do horário, ou liberavam meio expediente ou antecipavam o horário de saída. Outras, mais austeras, liberavam apenas o direito de assistir ao jogo, colocando um telão no salão. Mas isso era naqueles tempos de trabalho 100% presencial.
E agora, no home office, quem vai ser o zagueiro a impedir nossos avanços pelas laterais, justamente na hora de fazer o lançamento para o artilheiro? E nós, os colaboradores, como vamos jogar dentro das regras, sem um juiz em campo para apitar as nossas faltas? Como vai ser esse jogo? Vai ter mesmo impedimento?
Tô aqui, escondendo a vuvuzela, disfarçando a bandeira (que já andava tão abandonada ultimamente que até ficou com as marcas das dobras) e segurando o grito de gol. Pelo que pude sentir, vamos ter que dedicar muita ginga, muito jogo de pernas pra fugir dos carrinhos dos caça-gazeteiros. Vamos ter que aplicar muitas lambretas e fazer a bola rolar até o campo adversário sem sermos notados. Ali, na pequena área, rápidos como raio, meter aquela trivela e marcar um golaço. Que sempre será um gol contra, saiba-se. Contra os ponteiros do relógio, contra as regras da firma, contra as reuniões maldosamente marcadas para logo depois do jogo.
Mas vamos torcer. Quem sabe as empresas prefiram deixar os colaboradores praticarem o futebol-arte. E liberem os zagueiros pra subirem até a linha de ataque para cabecear de jeito, para o goleirão poder espalmar e meter as reuniões para escanteio. Vocês eu não sei, mas eu vou assistir aos jogos aqui de casa, só na companhia da minha torcedora favorita. No horário do expediente, mas sempre de olho naquela bobeada (sonhada, desejada, ambicionada) do zagueirão da firma.
Se apitar, eu volto correndo pra minha posição. Mas se deixar o jogo correr, eu marco alguns golaços. No copo!

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