Dava pra ganhar? Dava. Dava pra perder? Também dava. Mas pode-se culpar algum fator extracampo, a arbitragem, forças ocultas? Não, não se pode. Perdemos dentro das quatro linhas, durante o tempo regulamentar. O que faltou, de fato, foi futebol para reverter um resultado reversível.
Mas não havia um belo futebol a encantar a torcida e sugerir até a possibilidade do hexa? Havia. Antes da Copa. Depois do apito inicial, ninguém vai me convencer que jogamos o futebol necessário para suplantar os adversários mais fortes que estão mostrando, rodada a rodada, a que vieram.
O problema é que futebol não é só talento e bola no pé, como parece, e por isso apaixona tanta gente mundo afora. Esporte do imponderável, nele nem sempre ganha o melhor. E nem sempre o suposto melhor joga bem. Se não houver, junto a bons jogadores, treinadores e táticas, um condicionamento mental e emocional, acontece o que aconteceu contra a Bélgica: o desequilíbrio, a perda de controle para pôr o desejo acima das dificuldades.
É claro que fatos como o gol contra (ou o frango, como no jogo do Uruguai) mudam tudo, e por isso é preciso um repertório mais amplo que as soluções previsíveis. Não o tínhamos.
O resultado dessa sexta-feira nefasta para o futebol sul-americano resume a realidade política e econômica mundial: os demais continentes, cada vez mais, meros fornecedores de mão de obra talentosa para os clubes do primeiro mundo. O que faz da nossa Seleção uma tentativa canhestra de orquestrar esses craques como representantes da alma nacional, com o que implica em talento e garra. Metade disso já perdemos. E, como vimos, talento sozinho não leva a nada…
Pra não dizer que não procurei culpados, vou eleger pra Geni certos locutores e comentaristas, profetas do óbvio, propagandistas de unanimidades burras, de ufanismos toscos, fabricantes de narrativas fake, uns chatos de galocha. O consolo? Ficar sem ouvi-los pelos próximos quatro anos.