Como treinador de futsal, fui roubado vergonhosamente numa final de campeonato brasileiro. Repito: roubado. Não foi erro de arbitragem coisa nenhuma. Todo mundo viu. O ginásio viu. O time adversário viu. Todos com os quais falei disseram que foi pênalti. Até o 4o árbitro! Até os meus desafetos! E os dois juizecos de 5a categoria que apitavam o jogo “não” viram. Uma baderna.
Quero acreditar, por inferência sobre o que observo nessa Copa, que se houvesse esse novo recurso, o VAR (árbitro assistente de vídeo), o pênalti seria dado, tanto porque está entre as situações em que isso pode ser aplicado (as demais são gols, cartões vermelhos e erro de identidade de jogadores), como porque o assistente de vídeo, se não fosse da mesma gangue da dupla de arbitragem, não deixaria passar em branco. Imagino que lá da cabine, ainda que tivesse um senhor de mais de 70 anos, com catarata avançada, o árbitro seria alertado: “Hei, maluco, foi pênalti! Não precisa nem ver pra crer”.
Mas, mesmo assim, posiciono-me frontalmente contra o VAR. Por quê? Porque, com a intenção de se fazer justiça, se cometerá injustiças. E a maior delas será a de pulverizar o erro, a dúvida, a simulação, a malícia, a astúcia do futebol. Coisas que esse jogo não deveria prescindir! Além disso, aniquilaria a interpretação original do árbitro, que, acredito, faz parte do jogo e preserva a sua imprevisibilidade e polêmica. Lembra, afinal, de que somos humanos!
Entendo que o futebol precisa do erro, da dissimulação, do blefe. Ele não é feito apenas disso, mas não será o mesmo sem isso! Fique atento: se essa coisa, esse VAR, fosse utilizado na Copa de 1962, o lance antológico de Nilton Santos, em que faz o pênalti no espanhol e, para evitar a sua marcação pelo árbitro, dá um passo para fora da área, não constaria nos “Anais” do futebol. “Eu, tu, ele, nós, vós, eles” não saberíamos disso”! Pelé, por exemplo, seria expulso contra o Uruguai na Copa de 1970, quando, num lance de extrema austúcia, revidou, com uma cotovelada certeira, que passou despercebida pelo árbitro, um pisão covarde que tomara de um uruguaio. Pelé ainda teve a falta a seu favor, ou seja, além de fugir da porrada do cara que foi para quebrá-lo, dando-lhe um cotovelada para colocar os pingos nos is, levou vantagem. Essa é a vantagem de quem sabe jogar. A mesma de Maradona no gol contra a Inglaterra em 1986, que ficou conhecido como “la mano de Dios”.
Alguns podem me acusar de conservador; argumentarem, por exemplo, de que o recurso deu certo no voleibol e no tênis de campo e tal. Mas entendo como coisas distintas. Muito, diria. Nesses esportes, se trata de uma dúvida do tenista ou do árbitro com número estipulado de desafios; é algo que não se vê a olho nu! Conferir, por exemplo, se a bola tocou ou não na linha (tênis, vôlei); se resvalou no bloqueio (vôlei). Corresponderia, guardadas as proporções, a saber se a bola entrou ou não no gol – e nisso é até válida uma tecnologia, mesmo no futebol. O antídoto para a velocidade, por ser impossível saber, no tênis, por exemplo e em alguns casos, se a bola tocou ou não a linha à velocidade de mais de 200 km/h! Outra coisa: o povão não assiste esses esportes! Tampouco entende disso! Falamos de futebol! Do jogo de bola!
No futebol, por outro lado, as situações são muito, mas muito mais complexas – há mais elementos envolvidos: a bola, o (s) colega (s), o (s) adversário (s). Por exemplo: no jogo em que o Brasil venceu a Costa Rica, o árbitro deu o pênalti sobre o Neymar. Para mim também foi! Para ele também foi! Mas ele foi lá, por conta ou a pedido da rapaziada instalada confortavelmente na cabine, e recuou. Que é isso?! Vendo o lance várias vezes continuei com a impressão de pênalti. O pênalti que o árbitro deu para o Irã no jogo contra Portugal foi escandalosamente equivocado! Enfim, não dá. Olha, aposto que isso causará mais e maior polêmica na atuação da arbitragem. Muitos árbitros verão o vídeo e exporão, de uma vez por todas, seu despreparo. Os árbitros não sairão ilesos. “Não passarão”.
Outra coisa: aquela parada para ver se foi ou não gol, se o cara mereceu ou não o cartão, se foi ou não pênalti, é de foder! Constrangedora mesmo. Todos esperando aquele sujeito, que deveria passar despercebido no jogo, exercendo protagonismo. Uma completa distorção. Sem contar que jogador é um bicho malandro. Neguinho caiu na área, vão pra cima do árbitro: VAR, VAR, VAR…
O VAR é uma tentativa clara da FIFA de modernizar o futebol. Mais um erro dessa velhaca. Essa sovina que, amiúde, é acusada de contravenção.
O futebol não deve ser modernizado sob o risco de deixar de ser futebol.
VAR pra #@%] *&^ #]=%@!