Sozinha

Aquela bandeira não vai sair da sacada do vizinho?
– Sozinha, não.
– Como assim?
– Kkkk. Deixa disso. Até que fica bonito. Parece filme americano. Te incomoda?
– Um pouco.
– Por quê?
– É meio clichê, sabe? Copa, verde e amarelo, futebol…
– Você tá ficando velho. O que é que tem demais? Na Copa, as pessoas se unem para torcer pelo país. Aí colocam a bandeira.
– A gente nem pôs, né?
– Nem pensei nisso. Nem saberia onde comprar.
– É isso, sabe, a gente só põe a bandeira pra fora quando é Copa. Fora isso, não tem esse lance. Aí, quando o Brasil perde, a gente tira a bandeira. A gente deixa de torcer junto.
– Lindão, quando a Copa acabar, ele vai tirar. Certeza. Vários já tiraram. Aquele prédio ali, à direita, tava cheio.
– Será que a gente não põe a bandeira porque o Brasil está perdido?
– O Brasil já perdeu! Pra Bélgica! 2X1!
– Não a seleção! Falo do país mesmo. Será que, inconsistentemente, a gente não acredita mais no Brasil?
– Eu acredito!
– Em quê?
– Acredito que pode dar certo. Que o país vai melhorar.
– Mas por que é que não dá, então? Por que é que o tempo passa e a coisa não vira aqui?
– Vai dar certo! A gente vai eleger um novo presidente. Vai rolar.
– Vai nada. E mais: como é que a gente pode acreditar que um presidente mudará o país? O Brasil perdeu-se.
– O novo presidente vai colocar o país no trilho. Você vai ver. Vai injetar otimismo.
– Eu perdi a ilusão. Há gente que não vai deixar. A mesma gente que nunca deixou. Que não quer que a maioria viva com dignidade.
– Quem são esses?
– Os mesmos! Os que detém a grana. Os que não se importam. Essa gente que detém muito dinheiro e compra todo mundo. O dinheiro é uma obsessão pra essa gente.
– Vixi, olha lá, a bandeira se desprendeu. Tá caindo. Veja! Ela saiu sozinha.

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