Seleção raiz.

Minha primeira seleção foi formada num time de botões. Meu irmão torcia para o Santos e o time dele era todo certinho. O meu, não. Tinha botão de tampa de relógio, botão de osso, botão de acrílico, botão de casca de coco, botão de madrepérola (meu favorito), botão disputado das caixas de costura da minha mãe. O importante é que fossem bem lixados, deslizassem com classe na imensa tábua-campo – mandada fazer com exclusividade pelo meu fanático tio rubro-negro (dele herdei o meu “uma vez Flamengo…”) –, e respondessem com precisão ao “chute” da palheta.

A bola era de miolo de pão ou de couro de sapato; o goleiro de caixa de fósforo recheada de chumbo de gargalo de vinho; as redes das traves eram de tule ou meia de nylon; e a marcação do campo era sempre reforçada com o bom grafite da lapiseira.

Meus botões tinham nomes dos meus campeões de diversas procedências. Valia herói de filme épico, personagem de história em quadrinhos, amigo de brincar na rua, e apelidos como Coquinho, Feijão, Vula, Mané. Cada um de nós, meu irmão ou eu, narrava os passes, dribles e chutes a gol do seu time.

Naquele tempo, a gente chamava falta de “fal”, impedimento de banheira, jogador de defesa de beque; e escanteio e tiro de meta, de escanteio e tiro de meta mesmo.

Eu adorava jogar botão. E era boa nisso, como diz a minha sobrinha Alice.

Aí veio a Copa de 58. E todo mundo queria ter a sua Seleção.

Meu irmão santista continuou com o seu Pelé (e ficou insuportável para sempre), eu elegi o Vavá como meu ídolo, e passamos a formar times de verdade, com os nomes de jogadores recortados da Gazeta Esportiva e tudo.

A única coisa é que o meu camisa 9 era sempre o Vavá. E de madrepérola!

 

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