“Um tango em São Petersburgo”

O poeta argentino Jorge Luis Borges, autor do brilhante conto O Aleph, disse certa vez que o tango é uma expressão de alguma coisa que os poetas tem frequentemente tentando expressar em palavras. Pois bem! Frequentemente a seleção argentina, especialmente em Copa do Mundo, tem expressado o tango por meio do futebol. Assim ocorreu nesta tarde em São Petersburgo, um misto de lágrimas, suor, sangue e euforia, em que até Maradona cambaleou ao término da partida. Há quem diga, os mais críticos, que fora um pouco a mais de vodka, no entanto, acreditamos ser a força do tango argentino no apito final.

Bonito de ver mesmo foi a matada de Messi na coxa esquerda, tratando com carinho a gorduchinha, como um cavalheiro que trata a dama em pleno salão; depois uma embaixadinha de leve, preparando a pelota para o pé direito, algo não muito usual. Gol da Argentina! E que gol! Maradona, lá no camarote, arregala os olhos e agradece a Deus!

Até aí, tudo bem! Porém, na segunda etapa a Nigéria resolve acordar em campo empatando o tento com toda gana e alegria que é peculiar do povo africano. A partir daí, sim, o tango inicia com toda a sua imponência. E lá da arquibancada cantava a torcida azul e branco, “Ao grande povo argentino Saúde!”, a fim de levantar o ânimo de Messi e companhia.

Neste momento, lembrei-me de uma passagem de O Aleph, “Vi intermináveis olhos próximos perscrutando em mim como num espelho, vi todos os espelhos”; creio que esse também fora o pensamento de Messi, pois em cada quadrante ao seu redor havia um quarteto de nigerianos a lhe marcar implacavelmente.

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou… No entanto, no final do jogo, com toda a dramaticidade que envolve o espírito argentino, como um tango a escorrer em sinfonia na voz de Gardel: o momento de glória. Virada argentina em São Petersburgo, com lágrimas, suor, sangue e euforia, num hipérbato do que bem dissera Borges – “O tango não é triste, melancólico, nostálgico, choramingas. O tango é alegre”, em sua nascença.

Viva Messi! Viva Borges! Viva o tango!

Robson Veiga

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