COPA, SUA LINDA.

Na alegria e na tristeza, Copa é turbilhão de emoções.
Entendedores da arte do futebol entenderão.
Valem a pena acordar cedo, perder praia e cinema,
não assistir a séries, ler menos, fazer um buraco no meu
cantinho no sofá.
A Copa é linda por todas as camisas, gritos, bandeiras,
paixões e pelo que acontece nas quatro linhas.
Seus primeiros 11 dias foram uma seleção de momentos inesquecíveis. O número é mera coincidência, mas não vou decantá-los um a um,
tal um professor de catecismo, na missão de convencer que pensem como ele. Cada um que escolha a sua Copa – ou não -, pelo direito sagrado da concórdia e da discórdia.
Mas impossível para mim não reconhecer que o gol de Phillipe Coutinho já habita o escaninho das memórias sublimes, onde convive com o gol de falta do Cristiano Ronaldo, o cinismo debochado do Putin cumprimentando o Sheik todo paramentado, o erro ridículo do goleiro Caballero – alguém me disse
que se fosse numa pelada com churrasco ali no bairro, levaria uns bofetões, mesmo antes de a primeira linguiça. E mais: a cambalhota fracassada do iraniano na hora do lateral, o comportamento escatológico do técnico da Alemanha, a virada espetacular dos próprios contra a Suécia – timaço esse germânico, argh, há que se reconhecer apesar da dolorosa lembrança, que me fisga sete vezes ao dia.
Outras: a alegria dos treinamentos dos senegaleses, o esplendor da Bélgica, a surpreendente Rússia o trocadilhesco artilheiro da Inglaterra, a previsível competente Espanha, as estapafúrdias interpretações da tecnologia dos árbitros de vídeo, a abissal diferença entre fortes e fracos posta à prova na primeira rodada,
a tenacidade dos japoneses, o desespero disfarçado em indiferença do Messi, a histriônica e risível presença do imortal Maradona.
Tantos outros momentos me escapam e poderiam estar aqui, neste precário balanço dos primeiros momentos. Mas conto com a memória mais fresca de leitores generosos, que se dão a pachorra desta leitura neste domingo ensolarado, que não me atrai sair do sofá.
Enquanto a Copa desfila ao meu olhar encantado, não declaro confiança se o Brasil ganha, empata, ou volta pra casa na próxima quarta-feira. Não se tratam dos cabelos
e da instabilidade do Neymar. Abre parênteses. Tom Jobim já dizia que sucesso no Brasil é ofensa pessoal. Fecha parênteses. Entendedores entenderão, detratores
continuarão a destilar ódio pelo pelo nosso polêmico craque na vertical, canastrão na horizontal, sincero no pranto restaurador.
Polêmicas à parte, vamos ao que me dói: a lesão de Douglas Costa me deixou de corpo e alma debaixo de um saco de gelo.
Mas insisto: prognósticos e palpites não combinam comigo. Há 16 Copas, Copas me surpreendem. Aconteça o que acontecer, chorarei de alegria ou decepção, xingarei por culpados (traço infeliz da cultura brasileira), gritarei por heróis. Esta última, minha preferência, claro.
No entanto, essa Copa já valeu minha entrega.
Por um simples fato: depois de levar 6 da Inglaterra, o estreante Panamá fez um gol. Um mísero e grandioso gol. Comovente a comemoração dos jogadores, da Comissão Técnica, da torcida eufórica feliz, que gritou e dançou como se erguesse uma taça de ouro
no olimpos dos deuses do futebol. De cortar o coração e compreender o valor da alegria, mínima que seja.
Isto é Copa. Cada um que curta a sua. Cada um que sinta a sua.
Feliz sou eu que não saio do meu sofá.

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