Eu juro que grito!

Se for gol, eu grito! Juro que saio à janela e toco minha vuvuzela, balanço a bandeira, esquerda, direita, esta flâmula que vai e vem, vai-vem nesse agito sem fim da Copa do Mundo.

Levanto esse meu corpo, sacudo, saúdo.

Ergo meu copo e corro a vista adiante, esse meu olhar que atravessa o vazio da parede, eu do outro lado quando estico os braços para fora e me imagino dando as mãos pro vizinho, eu e ele e os outros também, todos juntos numa só torcida, essa nossa turma janeleira, essa farra feita ao levantarmos a bunda do sofá.

Se o Neymar cair, eu grito! Eu grito esse meu grito trancado no peito durante os últimos anos, eu para dentro, eu longe dos meus amigos de folia, eu e essa vida tão dura que eu vejo todos os dias aqui do sexto andar, o vai-vem de homens e mulheres e garotos e garotas e meninos e meninas, o balanço da direita e da esquerda.

Grito esse grito entalado, esse grito golpeado, sufocado, esse grito de quem não sabe quem são os vizinhos, não de verdade, a bola fora de controle que me atinge certeira, essa vidraça estilhaçada, quem foi?

Mas se for gol, eu grito! Juro que vou até a janela só para me unir com essa gente que eu não sei, essa gente que vibra, essa gente que se une, essa nossa vontade de que tudo vai dar certo no final, a tão sonhada vitória.

Eu grito por essa gente que torce pelo país, essa gente que se escancara e berra. Você está vendo, ali no décimo andar do prédio cinza de janelas brancas, aquele senhor balançando a bandeira?

E aquela criança na sacada, como ela corre, como ela pula.

É por ela que eu grito!

 

[Copa do Mundo da Rússia de 2018, crônica esportiva]

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