É melhor vestir a camisa do que vestir Louis Vuitton

Eu tinha uma esperança de que tudo fosse diferente, de que seria goleada, e só pra tirar da minha cabeça aqueles gols, aqueles sete gols, aquela porrada, aquela bordoada bem dada e aliviada pelos alemães que podiam mais, queriam mais, mas que, por educação, deram um breque na vergonha alheia.

Eu tinha essa esperança de que nesse Brasil-Suíça a rede balançaria muitas vezes, e de um lado só, do lado de lá, nossos amarelinhos enfiando pelo menos cinco no outro time. E então começaria nosso processo de redenção, de reaproximação, de re-encantamento. Mais três ou quatro gols no segundo jogo, que lindo seria, que maravilha, e poderíamos chamar nossos jogadores de craques, de gigantes, de brasileiros. Toda uma nação esperando apenas isso, três gols, no mínimo, o que não deveria ser muito para o país do futebol. Só que não, hoje os nossos atletas estão pra lá de europeus, e isso deve dar a pista para aquilo que eu suspeito e não posso afirmar, mesmo assim arrisco: nossos craques não vestem uma camisa que não venha acompanhada de mochilas e sacolas Louis Vuitton, dois cabeleireiros a tira-colo.

O cara que carrega a braçadeira dá a sua entrevista gloriosa antes do jogo dizendo que com Tite, ah, com Tite é tudo diferente, ele já dá tudo mastigadinho. E se eu tinha uma esperança, eu, do outro lado da tevê, passei a bola sem querer, poutz, ferrou, está aí um time que parece não pensar, não porque não sabe, mas porque acha que não precisa, porque já pensaram em tudo, já está tudo definido, olha só, eles são “menos time” que a gente, já está no papo. Mas que papinho, hein?

Eu ainda tenho esperanças, mas agora é preciso meter nove, e então tudo bem dar aquela acomodada em campo, fazer um jogo apagado ou, se a bola cair no pé, fazer umas firulas antes de chutar ao gol, dar tempo para a defesa se armar, foda-se esse mas se eu driblar e fizer esse gol será o mais bonito da copa e eu, eu serei o melhor jogador da partida, eu, o novo rei, eu e meu passe muito bem valorizado mesmo não sendo o Cristiano Ronaldo, que bate de primeira.

No fundo não me interessa o jeito que um jogador chuta a bola em direção ao gol, desde que a bola vá direto pro fundo da rede. Só acho meio bobo esse nheco-nheco de fazer bonito, mas que deixa a defesa chegar e dar o bote. Mesmo assim eu tinha a esperança de uma goleada que foi pelo ralo com essa história de ninar, já fizemos um, podemos ir com mais calma, é só fechar o gol, a gente precisa é se poupar. Poupe-me!

Poupe-me esse só você, a sua mochila brilhante, seu cabelo diferentão. Poupe-me desse futebol que não vai pra frente, a gente corre se precisar. A Suíça empatou, a nossa equipe precisou, mas não deu tempo nem de driblar, nem de marcar mais um. Não foi o juiz. Foi essa mania de andar no salto alto, a tatuagem na pele. É sempre a mesma falta de um filme que a gente já viu várias vezes porque potencial, ah, isso a gente sabe que o time tem.

A gente sabe, sim, e por saber aquilo que está escancarado, eu não queria um milagre, nada impossível. Eu queria do jeito que foi o segundo tempo do jogo contra o Chile, nas eliminatórias. Eram vocês que estavam lá. E eu tinha muitas esperanças, e não porque nós somos o país do futebol, mas porque nossa equipe tinha tudo para ser melhor que o adversário. E isso que é duro, que é desesperançoso: perceber que seu time jogou muito menos do que poderia, e fez isso por razões que a própria razão desconhece. E, nesse caso, melhor comprar aquela mochilinha da Renner.

[Brasil 1 x 1 Suíça, Copa do Mundo da Rússia, 2018 – crônica esportiva]

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