Arcada

Estes meus dentes de café estão tímidos nessa Copa. Estão amarelando mesmo. Acovardados, meus dentes sem placa de porcelana, sem carvão turbinado, com um ou outro bicarbonato de sódio de vez em quando.

Estes meus dentes de chá preto estão assustados. É tanto dente branco demais, cândido demais, plástico demais que os meus estão acuados, não conseguem fugir da marcação, pressão o campo todo, o noticiário todo, todos os apresentadores, os narradores e os comentaristas.

Mas estes meus dentes de vinho tinto estão apreensivos é com o Luis Suárez, será que ele vai morder?, essa força cavalar, a arcada saindo na frente, avançada, tirando vantagem. Eu fico só imaginando os ombros dos adversários, nhac, lá vem Suárez, domina, coloca a bola pra frente, faz a ginga, dribla um, passa, ainda domina a bola, chega junto aquele ombro páreo a páreo, que ombro gostoso, nhac, não!, não foi dessa vez.

Estes meus dentes permanentes parecem não acreditar, outro lance, Suárez recupera a bola, tenta passar pelo zagueiro, sofre a falta, ufa, foi só uma encarada, ainda bem, o árbitro está atento, a FIFA está atenta, os narradores, os apresentadores e os comentaristas todos a postos, todos com suas facetas novas, só a do Luisito parece sedenta, armada, pronta para dar o bote, nhac.

Foi assim no Campeonato Holandês de 2010, nhac,no Campeonato Inglês de 2013, nhac, e na Copa no Brasil de 2014, nhac. Otman Bakka, Branislav Ivanovic e Chiellini.

Vem aí o time do Uruguai, Luisito prende, briga, limpa e parte para o ataque, nenhum adversário até que chega aquele braço no supetão invadindo o espaço, o tórax roubando o terreno, os músculos reluzentes e aquela curva sinuosa do pescoço, ai meu deus, como assim, esse ombro todo no maior estilo não tô nem aí, mas aí, bem na cara de Luisito?, o maxilar, a espinha nasal, o peito esticado, poutz!, ai que saudades do dente de leite.

 

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