Deixa o Alfredo vibrar

Eu entendo perfeitamente quem não gosta de futebol. Acha um jogo tosco, sem importância, que não vale o sofrimento, tudo bem, até faz sentido. Mas não entendo por que esculachar quem gosta. Criticar a alegria do outro é ser chato. Sabe, chato, rancoroso, crica? Aquele que olha as pessoas de cima e diz em sua olímpica superioridade: “tolinhos… patéticos…”
Incomoda tanto assim ver o pessoal torcer, vibrar, cantar? A Copa é uma guerra de mentirinha, poxa. “Ah, mas é ridículo um povo com tantos problemas se importar com coisa tão boba.” Bom, mas nisso não somos originais. Entre em qualquer boteco em Maputo, Londres, Ancara, Roma, Tóquio ou Jerusalém para ver o pessoal grudado no jogo. É uma paixão global. Talvez o único troço que emocione o mundo em que o Brasil seja uma, senão a maior, potência.
Um jornalista francês escreveu que a festa do título da França em 98 foi maior do que a da libertação de Paris na Grande Guerra. Lembro das imagens da final de 2006 quando centenas de italianos comemoraram sua conquista feito loucos, fazendo guerra d’água dentro da Fontana di Trevi. Italianos e franceses, esses selvagens. O futebol tira a fleugma dos ingleses e faz holandês descer do tamanco. Nivela africanos e nórdicos, pobres e ricos, faz velho voltar a ser criança e criança nunca deixar de ser criança.
Ô, gente: deixa o pessoal ter um minutinho de alegria. Não gosta de futebol, perfeitamente: tem tanta coisa para gostar e ignorar o jogo: cinema, viagem, vinho, um bom livro, dominó, estrela cadente, uma comida gostosa. Mas não desdenhe quem gosta.
Gosto mesmo é de comentários como o do jogador e treinador escocês Bill Shankly, que dizia que “futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso.”
Parafraseando Fernando Sabino (muito mais cronista e apaixonado por futebol e seu Botafogo): Deixa o Alfredo vibrar, ora, bolas. Falando nisso, olha ela sobrando para o atacante com o goleiro caído!

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