João Nunes

Crônicas publicadas no projeto.

Existem deuses do futebol?

Sempre ouvi o povo que faz futebol no rádio, na TV e nos antigos jornais (hoje, sites) evocarem “os deuses do futebol”, afirmando que eles tinham feito isto ou aquilo – uma travessura ou arte, como diziam nossos avós. Uma espécie de seres similares àqueles que maquinam encontros e desencontros nas florestas encantadas em “Sonhos de uma Noite de Verão”.

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Mudando as regras

Por João Nunes Meu amigo Joca, que está em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, para conhecer a família da nova companheira, Mariana, me liga inconformado com a desclassificação do Brasil. – Nós somos a oitava seleção no ranking da Fifa; a Jamaica é a quadragésima terceira! – Você viu o que o técnico deles falou antes?

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Teremos vida e isso basta

Faltava uma semana para o início da Copa do Mundo Feminina de Futebol da Austrália/Nova Zelândia e eu, ainda, estava pensando em alguma coisa diferente para acompanhar os jogos. Por exemplo, alugar pousada bacana em Campos do Jordão, aproveitando o inverno. Levantaríamos bem cedo e tomaríamos delicioso café colonial vendo as meninas lutarem rumo ao título de campeãs do mundo.

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João Nunes

As Mãos do Pelé

A mãe, escandalosa como sempre, berrava, enquanto eu sumia pela praia em busca das águas quentes da Enseada. Por puro masoquismo, ela assistiu ao filme do Spielberg, na noite anterior à nossa viagem para o Guarujá e temia que eu fosse tragado por um tubarão. Eu, chamado de meia-lua na escola, por ser branquelo e fora do peso, ouvia os

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João Nunes

Sou brasileiro, sou coreano

Meu pai, que era do Recife, filho de pai potiguar e de mãe guarani desposada por africano de Angola, conheceu minha mãe que, em Lisboa, viu o mundo pela primeira vez com os dois grandes olhos azuis herdados do pai suíço de Genebra. Fui concebido no pós-guerra arrasado pelos escombros, mas prenhe de esperança, em Hiroshima (mon amour) e vindo

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João Nunes

LGBT o quê?

O Joca me ligou dizendo que a mulher dele, a Sarita, estava viajando e convidou o Matogrosso e eu para assistirmos ao jogo entre Portugal e Uruguai, países simpáticos – um, colonizador nem tão querido assim e, outro, pequena província ao sul com quem mantemos laços afetuosos. A discussão era: torcer pra quem? Fiquei com o Uruguai sul-americano de gente

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João Nunes

Depois de Marrakesh, pra lá de Teerã

A Sandrinha não suportava que eu a chamasse pelo diminutivo (“um desprestígio”), mas, agora que me abandonou por causa da Copa, que importância tem? Depois que Sandrinha partiu, ruídos para os quais nunca dei atenção ganharam vida. Imagino-a voltando quando ouço passos na escada, a cada toque do celular suponho que seja mensagem dela. Noite dessas, a ouvi, da rua,

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João Nunes

A gente não quer mais marcar gol contra

Das entrelinhas de “Comida” (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto), lançada pelos Titãs, em 1987, pode-se evocar o complexo de inferioridade do cidadão brasileiro, batizado de vira-latas por Nelson Rodrigues, nos anos 1950. Mas a música vai além ao agregar reivindicações. Ter comida é essencial, mas não basta, pois, como lembra Jesus, o ser humano não vive só do

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João Nunes

O renascimento vem da morte

Eu, Matogrosso e o Joca vimos o jogo do Brasil aqui na minha casa pertinho do campo da Ponte Preta. Era para ser comemoração, mas terminou em baixo astral geral. Então eu argumentei que deveríamos tomar cerveja e afogar as mágoas no Bar Majestoso, em frente ao estádio, e homenagear as meninas. Bugrino, o Joca fez muxoxo, mas o Matogrosso,

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João Nunes

Samba-reggae e duas heroínas

A cada subida e descida do velho jato da Aeroflot eu tinha certeza de que o avião explodiria no ar e eu me despediria deste mundo ainda muito jovem. Ele lançava estranho vapor e deixava uma espécie de neblina pairada dentro da aeronave. Comemos e dormimos por 25 horas, feito frangos de granja, na longa viagem de Moscou para Quito,

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Crônicas publicadas no projeto.

Existem deuses do futebol?

Sempre ouvi o povo que faz futebol no rádio, na TV e nos antigos jornais (hoje, sites) evocarem “os deuses do futebol”, afirmando que eles tinham feito isto ou aquilo – uma travessura ou arte, como diziam nossos avós. Uma espécie de seres similares àqueles que maquinam encontros e desencontros nas florestas encantadas em “Sonhos de uma Noite de Verão”. Não sei se lembram, na peça de William Shakespeare, escrita

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Mudando as regras

Por João Nunes Meu amigo Joca, que está em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, para conhecer a família da nova companheira, Mariana, me liga inconformado com a desclassificação do Brasil. – Nós somos a oitava seleção no ranking da Fifa; a Jamaica é a quadragésima terceira! – Você viu o que o técnico deles falou antes? Que era David contra Golias e, de novo, quem ganhou

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Teremos vida e isso basta

Faltava uma semana para o início da Copa do Mundo Feminina de Futebol da Austrália/Nova Zelândia e eu, ainda, estava pensando em alguma coisa diferente para acompanhar os jogos. Por exemplo, alugar pousada bacana em Campos do Jordão, aproveitando o inverno. Levantaríamos bem cedo e tomaríamos delicioso café colonial vendo as meninas lutarem rumo ao título de campeãs do mundo. A Fernanda chegou a me dar um toque: “se quiser,

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As Mãos do Pelé

A mãe, escandalosa como sempre, berrava, enquanto eu sumia pela praia em busca das águas quentes da Enseada. Por puro masoquismo, ela assistiu ao filme do Spielberg, na noite anterior à nossa viagem para o Guarujá e temia que eu fosse tragado por um tubarão. Eu, chamado de meia-lua na escola, por ser branquelo e fora do peso, ouvia os gritos dela me imaginando que, ao menos, eu serviria de

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Sou brasileiro, sou coreano

Meu pai, que era do Recife, filho de pai potiguar e de mãe guarani desposada por africano de Angola, conheceu minha mãe que, em Lisboa, viu o mundo pela primeira vez com os dois grandes olhos azuis herdados do pai suíço de Genebra. Fui concebido no pós-guerra arrasado pelos escombros, mas prenhe de esperança, em Hiroshima (mon amour) e vindo à luz em Seul, na Coréia do Sul. Apreciador do

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LGBT o quê?

O Joca me ligou dizendo que a mulher dele, a Sarita, estava viajando e convidou o Matogrosso e eu para assistirmos ao jogo entre Portugal e Uruguai, países simpáticos – um, colonizador nem tão querido assim e, outro, pequena província ao sul com quem mantemos laços afetuosos. A discussão era: torcer pra quem? Fiquei com o Uruguai sul-americano de gente afável caminhando na 18 de Julho, em Montevidéu, como se

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Depois de Marrakesh, pra lá de Teerã

A Sandrinha não suportava que eu a chamasse pelo diminutivo (“um desprestígio”), mas, agora que me abandonou por causa da Copa, que importância tem? Depois que Sandrinha partiu, ruídos para os quais nunca dei atenção ganharam vida. Imagino-a voltando quando ouço passos na escada, a cada toque do celular suponho que seja mensagem dela. Noite dessas, a ouvi, da rua, gritar meu nome e acordei assustado de um pesadelo. Para

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A gente não quer mais marcar gol contra

Das entrelinhas de “Comida” (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto), lançada pelos Titãs, em 1987, pode-se evocar o complexo de inferioridade do cidadão brasileiro, batizado de vira-latas por Nelson Rodrigues, nos anos 1950. Mas a música vai além ao agregar reivindicações. Ter comida é essencial, mas não basta, pois, como lembra Jesus, o ser humano não vive só do pão – existe anseio por algo mais. Então, os autores

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O renascimento vem da morte

Eu, Matogrosso e o Joca vimos o jogo do Brasil aqui na minha casa pertinho do campo da Ponte Preta. Era para ser comemoração, mas terminou em baixo astral geral. Então eu argumentei que deveríamos tomar cerveja e afogar as mágoas no Bar Majestoso, em frente ao estádio, e homenagear as meninas. Bugrino, o Joca fez muxoxo, mas o Matogrosso, pontepretano que nem eu, pegou pesado e até fez rima:

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Samba-reggae e duas heroínas

A cada subida e descida do velho jato da Aeroflot eu tinha certeza de que o avião explodiria no ar e eu me despediria deste mundo ainda muito jovem. Ele lançava estranho vapor e deixava uma espécie de neblina pairada dentro da aeronave. Comemos e dormimos por 25 horas, feito frangos de granja, na longa viagem de Moscou para Quito, onde eu morava. Depois de termos parado em Dublin, Irlanda,

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